A primeira-dama Janja é a figura mais popular do governo e sua visita ao Rio Grande do Sul, acompanhando a terceira comitiva de ministros que visita nesta quinta-feira (28) o Vale do Taquari acrescenta um componente humano importante. Desde a campanha eleitoral, passando pela posse e os primeiros meses de mandato de Lula, Janja se destaca pela defesa da diversidade e busca dotar o governo com um tom mais suave ao governo.
Por tudo isso, a vinda de Janja ao Vale do Taquari "para olhar de perto" as ações do governo, nas palavras do ministro Paulo Pimenta, da Secom, é também estratégica. Primeiro porque pegou muito mal para a imagem de Lula sua ausência no Rio Grande do Sul. Algumas pessoas dizem: "Ah, mas o que mudaria na prática ele vir ou não?". Sim, o que importa são recursos. Mas, do ponto de vista simbólico, em uma empresa ou governo, diante de uma crise, o líder precisa estar perto. Mostra mais do que empatia. Revela comprometimento.
Em outras tragédias, neste ou em mandatos anteriores, Lula visitou as áreas afetadas. Em menos de 30 dias de governo, para ficarmos em apenas um exemplo, ele decolou para Roraima para estar ao lado do povo Yanomami na crise humanitária.
No caso gaúcho, o presidente não postergou o embarque para a Índia, onde participaria do encontro do G-20. O governo alegou que visitas presidenciais demandam tempo para a organização da logística. Não falo aqui nem de desembarque no terreno. O simples sobrevoo das áreas atingidas, em avião da Força Aérea Brasileira (FAB), mostraria empatia. Bate-volta resolveria.
Diante das críticas, absorvidas e admitidas por assessores do próprio governo, enquanto ainda estava na Índia, Lula despachou o vice e então presidente em exercício, Geraldo Alckmin, para vir ao Estado. Agora, em território nacional, quando poderia finalmente visitar o Estado, foi recomendado, por médicos, a guardar repouso. Nesta sexta-feira (29), ele será submetido a uma cirurgia no quadril.
O segundo aspecto dessa estratégia de contenção de danos representada por Janja é que, ela própria, precisou apagar uma postagem feita em redes sociais tão logo desembarcou em Nova Délhi. Enquanto o Rio Grande do Sul se unia em solidariedade às vítimas da fúria do Taquari, a primeira dama descia do avião dizendo, em vídeo, "me segura que eu já vou sair dançando". O tom bem-humorado foi criticado, e o vídeo foi deletado instantes depois.
O papel de Janja no governo é alvo de debate em Brasília. E agora, diante do afastamento do presidente por questões de saúde, voltará à tona. O Planalto nega que a viagem seja um indicativo de como ela terá um protagonismo ainda maior, substituindo o marido nesse período. Mas, antes de desembarcar no RS, já houve outro indicativo de como será sua atuação pelas próximas semanas. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, viajou em jatinho da FAB para assistir à final da Copa do Brasil, no domingo (24). Levou assessoras com ela, inclusive Marcelle Decothé, que ofendeu a torcida do São Paulo e os paulistas em geral. Passado o episódio, Janja teve reunião com Anielle na terça-feira (26). A ministra telefonou para o presidente do clube paulista e para um chefe de torcida organizada para se desculpar. Na sequência, a pasta divulgou nota informando a demissão de Marcelle.