Depois de se autoimpor um fracasso como mediador da crise entre Rússia e Ucrânia, pelas declarações controversas, que ganharam repúdios públicos de Estados Unidos e União Europeia, o presidente Lula se lança em um novo desafio internacional – tão complexo quanto a guerra no Leste Europeu, mas em um campo mais conhecido, no qual a voz do Brasil é reconhecida como autoridade e no qual tem, digamos, know-how.
A Cúpula de Belém, que começa oficialmente nesta terça-feira (8) na capital paraense, é uma espécie de prefácio, para as aspirações brasileiras, da atuação na COP28, a 28ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, que será realizada nos Emirados Árabes Unidos, em novembro. A ideia é unir, em um único documento, a Carta de Belém, a ser assinada na quarta-feira, as propostas dos oito países que abrigam em seus territórios parte da Floresta Amazônica (além de Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Suriname e Venezuela). Esses países formam a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), cuja última reunião havia sido em 2009 – o que ajuda a compreender porque essa é uma sigla pouco conhecida, se comparada com ONU, Brics e a própria COP e explica, em parte, sua pouca relevância.
Ao longo desses últimos 14 anos, cada um dos oito países da entidade esteve envolvido em suas próprias crises internas, que os irmana: do aprofundamento da desigualdade e da pobreza, passando por altas taxas de mortes por covid-19, até tentativas de golpe e impeachment de presidentes. Diante de furacões domésticos, quem pensaria em falar em cooperação amazônica? Não houve.
A oportunidade de discutir uma posição conjunta sobre a maior floresta equatorial do planeta, capitaneada pelo Brasil, no entanto, não garante voz uníssona. Há vários interesses em jogo. Alguns mais claros, como o desejo de Lula de se cacifar como o grande xerife mundial do clima, outros, implícitos, como o recado que provavelmente aparecerá, nas entrelinhas da declaração final, para que os países desenvolvidos não utilizem a agenda ambiental como protecionismo. Ou cobranças, essas mais explícitas, para que os países ricos cumpram promessas de destinação de US$ 100 bilhões para conservação da floresta, como já sugeriu Lula ontem.