A poucas horas de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciar o corte ou não na taxa básica de juro, a Selic, na tarde desta quarta-feira (2), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que "ninguém espera a manutenção da taxa".
Em entrevista a oito veículos de comunicação brasileiros, entre eles GZH, Haddad disse que, no mercado, há quem especule uma redução de até 0,75 ponto percentual da Selic, embora o corte de 0,5 ponto seja o mais esperado.
- Não existe um economista, pelo menos com reputação, que possa defender a manutenção da taxa (de juro). Penso que, tendo (ocorrido) esses benefícios, queda da inflação, queda do dólar, tudo isso aponta em uma direção técnica de um corte mais consistente. Hoje, o mercado está pendendo mais para meio (ponto) do que para qualquer outro número, lembrando que tem gente do mercado, que está lá operando fundos bilionários, apostando e, um corte de 0,75 ponto - declarou, durante o programa Bom dia, ministro, organizado pela Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal.
Durante a entrevista de uma hora, Haddad se mostrou bastante otimista em relação ao anúncio das próximas horas. Disse que "os políticos provavelmente gostariam de uma redução maior da taxa de juro", como ocorreu no Chile, que cortou um ponto percentual.
- Penso que as perspectivas são muito boas não por outra razão que não seja o retorno para a sociedade que o esforço que a própria sociedade, por meio de seus representantes, já fez nos primeiros seis meses desse ano. Imagina a quantidade de leis que foram aprovadas (em seis meses), que fizeram com que nada menos que quatro agências de rating revisasse sua nota (do Brasil) apenas no primeiro semestre - disse.
Ele explicou que, a partir de um ciclo de cortes da Selic, "com a parceria do BC a partir de agora", haverá "um horizonte de reformas no segundo semestre e maiores investimentos".
Questionado por GZH se há ambiente para rediscutir a autonomia do BC, como Lula já sugeriu algumas vezes em críticas a seu presidente, Roberto Campos Neto, Haddad disse apenas que o presidente prometeu, desde a eleição, conviver com as instituições que recebeu como legado.
- Ele (Lula) é uma pessoa que sempre defendeu as insitituições e nunca pretendeu ofender prerrogativas estabelecidas em lei. Isso não o impede de discutir taxa de juro. Uma coisa é você dizer "tem lá uma diretoria..." Outra coisa é você concordar ou não com determinado procedimento. Às vezes as pessoas pensam: existe o político e o técnico. Então, vamos ser técnicos. Isso é uma meia verdade, porque, na verdade, tecnicamente falando, você pode discutir. Não é porque você está discutindo que não está sendo técnico. Quando me manifesto sobre taxa de juro procuro ser o mais técnico possível, me basear nas informações que recebo das secretarias do Ministério da Fazenda, que tem técnicos tão qualificados quanto o BC - explicou.
Haddad também comentou sobre o Desenrola, programa do governo federal para envididados. Segundo ele, foram retirados 3,5 milhões de CPFs negativados desde o início do programa, há duas semanas. Em setembro, vai ser inaugurada nova fase, voltado a dívidas não bancárias.
Outro tema da entrevista foi a cooperação entre União e entes federativos. O ministro disse acreditar que um novo ciclo de cooperação foi iniciado na relação com os Estados e municípios.
- O governo anterior destruiu um canal importante com governadores e prefeitos. Isso prejudicou muitos os Estados. Alguns Estados quebraram porque a União se apropriou dos recursos - disse.
Haddad também confirmou que o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) será anunciado por Lula na semana que vem, com forte conotação ambiental. O programa está sendo chamado de PAC Verde.