Desde que voltou ao Planalto, em janeiro, raras foram as semanas em que o presidente Lula passou sem criticar, uma única vez, as ações do Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, pelo patamar alto da Selic, a taxa básica de juro, mantida em 13,75% ao ano desde agosto de 2022.
Só há uma tema que irrita mais Lula: Sergio Moro. Nem a Venezuela e a ditadura de Nicolás Maduro, a quem estendeu tapete vermelho em Brasília recentemente, são capazes de tirá-lo tanto do sério quanto o juro alto, que, na visão do governo, reduz o crescimento econômico de forma desnecessária.
As críticas já apareciam na campanha eleitoral, aumentaram na transição e viraram rotina nos primeiros meses de mandato (seis vezes Lula criticou, em pronunciamentos públicos, a taxa de juro, entre janeiro e fevereiro; três em março; três em abril; quatro em maio e assim por diante). Tanto que, entre jornalistas, o quê e como perguntar a Lula sobre o tema já não é uma questão. O presidente dá um jeito de atacar a política monetária do BC quando fala sobre qualquer assunto.
Aos poucos, criticar a alta taxa de juro virou também mantra dos demais integrantes do primeiro escalão do governo: na última semana, Simone Tebet, do Planejamento, Rui Costa, da Casa Civil, Luiz Marinho, do Trabalho, e Fernando Haddad, da Fazenda, tomaram a frente. Redobraram a pressão na semana passada.
Lula, adepto das metáforas de futebol, vai esperar os próximos dois dias como quem aguarda a final de campeonato, na quarta-feira. Expectativa semelhante, desde a posse, o governo talvez só tenha tido nas votações, na Câmara, do arcabouço fiscal e da reforma tributária. A diferença é que, nessas duas, coube ao presidente, muitas vezes, colocar sobre a mesa, em telefonemas e reuniões presenciais, seu poder de negociação, acompanhado de promessas ao centrão e emendas. Diante da decisão do Copom, não há muito o que o presidente possa fazer a não ser esperar - aliás, essa independência do BC, outra crítica habitual do Planalto, é irritante para Lula e não devemos nos surpreender se essa se tornar a próxima rusga entre Lula e Campos Neto.
A semana que começa neste domingo é decisiva não apenas no campo econômico. O anúncio da próxima quarta-feira, data da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC mexe com aspectos políticos do governo. Dela depende os próximos passos na economia.
Em nenhuma das 31 semanas desde que Lula subiu a rampa as condições para redução da taxa básica de juro pela autoridade monetária estiveram tão postas. Houve revisão das projeções de inflação e melhora na classificação do Brasil por agências de risco. O mercado aposta em corte de 0,5 ponto percentual, o que, na visão do governo, seria uma decisão conservadora. Mesmo assim, o Planalto vai comemorar, apostando no início de uma sequência de reduções para tornar mais célere o efeito sobre investimentos e fazer a roda do consumo girar. Se houver manutenção da Selic em 13,75% ao ano, a frustração tomará conta do governo. A única certeza é que, independentemente do resultado anunciado na quarta-feira, Campos Neto seguirá sendo, para o governo, o inimigo número 1 da República, o malvado favorito de Lula.