Não há como negar: a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) é uma aliança militar, e como toda entidade desse tipo, se prepara para guerra.
Claro que a diplomacia pode entrar em campo, é óbvio que acordos entre países servem muito mais como medida dissuasora, mas o fato é que o ingresso da Finlândia na organização eleva o nível de tensão na Europa e aumenta a chance de um conflito armado entre a Otan e a Rússia.
Aqui, a primeira ironia: Vladimir Putin invadiu a Ucrânia, em janeiro de 2022, para evitar o ingresso do país governado por Volodimir Zelensky na aliança militar do Ocidente e, assim, sua expansão.
A Rússia não apenas não evitou a aproximação dos ucranianos com o lado ocidental e com a Otan e a União Europeia, como viu a organização atlântica se alargar.
Com a entrada da Finlândia, a área de fronteira entre a Rússia e a Otan praticamente dobra de tamanho (chega-se a 1,3 mil quilômetros) - juntando-se com Estônia, Letônia e Lituânia. Hoje, os quatro países da Otan têm pontos de contato terrestre com a Rússia - no caso da Lituânia, com Kaliningrado, um exclave a Oeste, no Mar Báltico.
A ampliação não vai parar por aí: Suécia deve ser o próximo país a ingressar na Otan, nos próximos meses.
No caso da Finlândia, entretanto, é ainda mais sensível porque traz à memória a relação histórica com a Rússia. Há a reabertura de feridas.
Em 30 de novembro de 1939, três meses depois do início da Segunda Guerra Mundial, o Exército Vermelho atacou a Finlândia, no que ficou conhecido como Guerra Soviético-Finlandesa. O conflito arrastrou-se até 12 de março de 1940, quando um tratado foi assinado. A Finlândia cedeu 10% de território e 20% de sua capacidade industrial à União Soviética.
Ressentimentos não se apagam em 84 anos. Talvez nunca.