A segunda-feira (6) foi o dia do "fico" para Juscelino Filho. Não que essa decisão dependesse dele. Leia, abaixo, o que "fica" (com o perdão do trocadilho) de sua manutenção na Esplanada dos Ministérios em cinco pontos:
1) Lula estava muito incomodado com o silêncio de Juscelino, que aliás nunca foi da cota pessoal do presidente para nenhum ministério. No caso específico das Comunicações, Lula preferia Paulo Teixeira (PT), que acabou indo para o Desenvolvimento Agrário, porque o presidente precisava abrir mão da pasta em troca de apoio político do União Brasil no Congresso. Lula estava incomodado com o silêncio de Juscelino porque as denúncias, lideradas pelo jornal O Estado de S. Paulo, começaram a surgir ainda em janeiro, nas primeiras semanas de governo. E o ministro não veio a público em nenhum momento se defender. Só na tarde da segunda-feira (6), minutos antes do começo da reunião no Planalto, foi que gravou um vídeo e o divulgou em redes sociais. Se tinha explicação para tudo, na sua visão, por que não se manifestou antes?
2) No entendimento de Lula e da equipe mais próxima do presidente, o episódio serviu para um "bola ao centro" da relação com o União Brasil, do senador Davi Alcolumbre. O partido tem dois ministérios (Comunicações e Turismo) - o terceiro, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional, de Waldez Góes, ainda está com o PDT porque o titular não migrou para União Brasil até o momento.
No final de semana, o partido fechou questão em segurar Juscelino no ministério ou, no mínimo, garantir que a vaga ficasse com o partido, caso a substituição se confirmasse. Essa é a visão de uma ala da legenda. Há outra que entende que a permanência do União no governo só deteriora sua imagem.
Para quem apoiou a permanência de Juscelino, a tática passou a ser mostrar que a crise envolvendo o ministro foi agravada pela disputa interna no PT, acusando a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, que vinha cobrando de Lula a saída do ministro.
3) Pragmatismo político, essa tem sido a tônica das relações de Lula com o Congresso. A permanência de Juscelino desagradou a maior parte do PT, mas o presidente resolveu avaliar a situação com os olhos de quem precisa de apoio politico para aprovar medidas importantes neste ano, como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal.
O União Brasil tem a terceira maior bancada na Câmara, com 59 deputados, e a quarta no Senado, com nove parlamentares.
Demitir Juscelino significaria levar o União Brasil, definitivamente, para o lado da oposição.
4) No governo, há o entendimento de que o União Brasil não está entregando o apoio devido no Congresso. As votações ainda não começaram, mas o partido tem dito que vai se posicionar de forma independente. Ou seja, na prática, a legenda não se considera governo. Com a frase do presidente da Câmara, Arthur Lira (PL-AL) na segunda-feira (7), segundo a qual o Planalto não tem ainda apoio para votar projetos importantes, as cobranças do governo sobre o União Brasil vão aumentar.
5) Por trás da continuidade de Juscelino também está o fato de Lula não desejar, em menos de cem dias do mandato, criar um desgaste no governo, abrindo a porta para a substituição de ministros - e, pior, por denúncias de irregularidades.
Mas o jogo não está encerrado. A Comissão de Ética da Presidência vai analisar no dia 28 de março as denúncias, e o colegiado pode recomendar a Lula a demissão do ministro. Nos bastidores, sua permanência é considerada insustentável a médio prazo.