Em sua primeira declaração pública depois de retornar ao Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro manteve o tom de ataques ao PT e ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ao chegar à sede do PL, em Brasília, por volta das 8h, elogiou o Congresso, de maioria conservadora, e disse que Lula e seus correligionários "não vão fazer o que bem querem com a nação".
- Eu lembro lá atrás, quando alguém criticava o parlamento, Ulysses Guimarães dizia: "Espera o próximo". Dessa vez, o próximo melhorou e muito - afirmou. - O parlamento nos orgulhando pelas medidas, pela forma de se comportar, agir lá dentro, fazendo o que tem que ser feito e mostrando para esse pessoal que, por ora, pouco tempo, está no poder, eles não vão fazer o que bem querem com o destino da nossa nação.
A manifestação foi feita a correligionários, logo após entrar no prédio onde fica a sede do PL. A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) transmitiu parte do discurso.
- É com orgulho grande que retorno. Vou receber muita gente, conversar - afirmou o ex-presidente.
O escritório no qual Bolsonaro foi recepcionado fica no complexo Brasil 21, em Brasília, o mesmo onde está localizado o hotel no qual Lula ficou hospedado durante a transição e algumas semanas após a posse. Cerca de cem metros separam os dois prédios.
Nas dependências do partido, Bolsonaro foi recebido pela mulher, Michelle Bolsonaro, e pelo presidente do PL, Waldemar Costa Neto. Por alguns instantes, ele apareceu na janela do prédio, acenando para quem estava do lado de fora.
Dezenas de apoiadores acompanharam a chegada do comboio. Alguns parlamentares bolsonaristas também foram chegando ao edifício, como o ex-ministro da Saúde e atual deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), e a ex-ministra dos Direitos Humanos e senadora Damares Alves (Republicanos-DF). Um carro de som tocava o Hino Nacional do lado de fora, enquanto vendedores ambulantes ofereciam bandeiras do Brasil, bonés e camisetas nas cores verde e amarelo.
Procedente de Orlando, na Flórida, o avião que trouxe Bolsonaro pousou às 6h40min no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Algumas dezenas de apoiadores do ex-presidente se aglomeravam no saguão próximo à sala de desembarque, no andar térreo, na expectativa de ver Bolsonaro. Por volta das 6h30min, havia muitos policiais militares no local.
Com celulares em punho, os apoiadores de Bolsonaro faziam lives para redes sociais ou ligavam para amigos, por chamada de vídeo, comemorando o retorno do ex-presidente. De tempos em tempos, cantavam o Hino Nacional. Em alguns momentos, gritavam a palavra "mito" e alternavam palmas com cânticos como "O capitão voltou". Também houve manifestações contrárias ao presidente atual, chamado de "ladrão".
Às 6h40min, quando a inscrição nas telas informou que o voo 7601 da Gol havia pousado, houve gritos e palmas. Bolsonaro viajou em uma aeronave da companhia aérea decorada com ilustrações de Harry Potter em alusão à atração do parque temático da Universal, em Orlando, cidade onde ele ficou hospedado por quase três meses.
O ex-presidente, que viajou na primeira fileira do avião, acompanhado por três assessores, desembarcou por volta das 7h. Mas levou quase uma hora para deixar o aeroporto.
Bolsonaro saiu em comboio escoltado por batedores da Polícia Militar do Distrito Federal por um portão secundário e não apareceu no saguão, frustrando os apoiadores. Duas senhoras com bandeiras do Brasil às costas disseram que a culpa era do "Dino", em referência ao ministro da Justiça e Segurança, Flávio Dino.
- Foi ele que não deixou que Bolsonaro saísse por aqui (no saguão). Eu, se fosse ele (Bolsonaro), saía pra abraçar o povo dele - disse uma delas.
Diante da ausência do ex-presidente, quem apareceu no terminal foi o deputado federal e filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), que conversou com apoiadores e tirou selfies com fãs.
Bolsonaro retorna ao Brasil após 89 dias nos Estados Unidos. Ele havia deixado Brasília em 30 de dezembro, dois dias antes da posse de Lula, ao qual não passou a faixa presidencial.