O que será do Brasil com Lula e Jair Bolsonaro sob o mesmo céu de Brasília? Começaremos a descobrir a partir das 7h desta quinta-feira (29), quando o ex-presidente que deixou o poder pela porta dos fundos, em 30 de dezembro, desembarcar no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, onde espera ser recebido com tapete vermelho pelos apoiadores.
O primeiro teste será, justamente, o de popularidade: se conseguirá reunir tantos fãs quanto o fazia no Planalto saberemos nesta manhã.
O segundo teste será para as autoridades brasileiras: um Bolsonaro fora do poder é menor do que ele próprio imagina, mas o 8 de janeiro ecoa como lembrança do que um punhado de radicais pode provocar. Os vários inquéritos que envolvem o nome do ex-presidente estão ainda no início, mas já na Quinta-feira Santa, 6, a Polícia Federal (PF) espera ouvi-lo por conta do escândalo das joias.
O terceiro teste, o político, só o tempo dirá. A derrota de Bolsonaro nas urnas deixou a direita sem timoneiro. O ex-presidente retorna ao país imaginando ser ainda essa pessoa, mas um grupo já desembarcou do navio. A verborragia de Lula, na semana passada, alçou o senador Sergio Moro a um dos possíveis líderes da direita tradicional, enquanto o prefeito de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, se cacifam para 2026.
Bolsonaro não irrita tanto Lula quanto Moro, mas imaginar o atual presidente e o ex, na mesma cidade, um no palácio e outro a poucos quilômetros dali, trocando farpas pela imprensa, é algo pouco comum a uma tradição brasileira que, normalmente, reserva ao antecessor o silêncio diplomático. Não espere essa postura de Bolsonaro.
Quanto a Lula, ele já demonstrou que não precisa de inimigos para fazer descarrilhar o governo - ele próprio se encarrega disso. Por isso, é fundamental que não seja fisgado por provocações, que virão, por certo.
Ao Brasil seria importante virar a página. Não acredito em pacificação: a história ensina que, infelizmente, a política daqui é pródiga em puxadas de tapetes, personalismos, confrontos e polarização. Bolsonaro pode voltar ao poder, em 2026, pelas urnas. Mas até lá, há uma proposta, eleita pela maioria dos brasileiros, para ser colocada de pé, transformada em realidade. Seu retorno ao Brasil não pode nem deve ocupar mais espaço do debate público do que as medidas fundamentais que o Planalto precisa apresentar à população.