O Tribunal de Contas da União (TCU) quer tornar o episódio dos relógios de luxo recebidos como presente por parte da delegação do então presidente Jair Bolsonaro em viagem ao Catar, em 2019, uma oportunidade de limitar o valor das gentilezas oferecidas por países estrangeiros em visitas diplomáticas. Na ocasião, cinco autoridades brasileiras receberam relógios das marcas Cartier e Hublot, que custam, cada um, mais de R$ 50 mil.
Em acórdão, o TCU entendeu que os itens extrapolaram os "limites da razoabilidade". No entanto, a Corte não determinou a devolução dos relógios à União, apenas propôs que essa atitude seja tomada.
Se os presentes serão ou não devolvidos, ainda não se sabe, mas, ao menos, o episódio deve se tornar exemplo de como algumas tradições diplomáticas precisam mudar ou, no mínimo, estarem adequadas ao princípio da moralidade pública. Com esse propósito "pedagógico", o TCU decidiu recomendar à Comissão de Ética da Presidência que aperfeiçoe sua regulamentação para citar expressamente limites para o valor dos presentes que podem ser recebidos por agentes públicos em missões no Exterior.
Segundo a Comissão de Ética repassadou ao TCU, as seguintes ex-autoridades receberam os relógios do governo do Catar: Ernesto Araújo (ex-ministro das Relações Exteriores), Osmar Terra (deputado federal pelo MDB do RS e à época ministro da Cidadania), Sergio Ricardo Segovia Barbosa (ex-presidente da Apex), Gilson Machado Neto (ministro do Turismo) e Caio Megale (ex-secretário e diretor de programa do Ministério da Economia). Roberto Abdala, ex-embaixador do Brasil em Doha, também ganhou um relógio, mas já devolveu o presente. À época, o Ministério das Relações Exteriores justificou que a troca de presentes era parte da prática usual das relações diplomáticas.