A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos Estados Unidos ocorre no momento em que empresários dos dois países comemoram um momento favorável: as trocas comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos em 2022 atingiram o nível histórico de US$ 88,7 bilhões. O dado é do Monitor de Comércio Brasil-EUA da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham, na sigla em inglês). O levantamento mostra que o valor superou em US$ 18,2 bilhões (25,8%) o recorde anterior, estabelecido em 2021.
- A expetativa (para o encontro entre Lula e Biden) é muito positiva e o setor empresarial espera que a agenda econômica esteja no centro das conversas e apresentou ao governo as suas prioridades - afirma o CEO da Amcham Brasil, Abrão Neto.
A entidade representa um terço do PIB brasileiro, com cerca de 3,5 mil empresas associadas em 16 cidades brasileiras. Trata-se da maior câmara americana de comércio, entre 117 existentes fora dos EUA. Conforme a Amcham, no ano passado, as importações brasileiras de origem americana alcançaram o recorde de US$ 51,3 bilhões, incremento de 30,3% sobre o ano anterior.
O aumento médio dos preços de 35,6% explica em grande parte esse crescimento, sobretudo para fertilizantes, combustíveis e carvão. Já as exportações do Brasil para os Estados Unidos saltaram 20,2% em relação a 2021, atingindo US$ 37,4 bilhões, puxado tanto pelo aumento de preços como pelo crescimento do volume das exportações, que ocorreu em 7 dos 10 principais itens embarcados para os Estados Unidos. A seguir, trechos da entrevista que o executivo concedeu à coluna.
A que se deve esse bom momento do comércio entre os dois países?
Deve-se a três motivos principais. O primeiro é que houve uma continuidade da recuperação econômica dos países, o que foi determinante para aumentar a demanda dos países por produtos dos dois lados. O segundo fator foi o aumento de preços de alguns bens em que as trocas entre Brasil e Estados Unidos são relevantes, como petróleo e energia de forma geral e até alguns bens como café do lado das exportações do Brasil. Por fim, o conflito na Ucrânia contribuiu para que os países aumentassem as trocas substituindo outros fornecedores. Esse caso é claro no aumento de importações do Brasil de adubos e fertilizantes e na venda aos Estados Unidos de petróleo bruto.
Ainda assim, a balança comercial é negativa. Por quê?
O comércio entre Brasil e Estados Unidos é um comércio de alta qualidade e contribui de maneira muito positiva para a economia brasileira. Basta analisar alguns dados como o fato de que 79% das exportações brasileiras aos Estados Unidos são de bens industriais, contra uma média de 50% do comércio com o mundo. Além disso, os Estados Unidos são destino de quase metade de todos os bens de alta tecnologia vendidos pelo Brasil ao mundo. Por fim, é preciso também ter uma perspectiva mais ampla. Os Estados Unidos são o maior investidor externo no Brasil (com US$ 124 bilhões em estoque) e o maior parceiro comercial nas trocas de serviços.
O que o senhor espera do encontro entre Lula e Biden?
A Amcham vê com muita satisfação o encontro dos presidentes já no início desse novo governo. Brasil e Estados Unidos são parceiros estratégicos e com laços muito fortes na economia. Dessa forma, a expetativa é muito positiva e o setor empresarial espera que a agenda econômica esteja no centro das conversas e apresentou ao governo as suas prioridades, tais como: cooperação em meio ambiente e transição energética, aumento da integração em cadeias de valor em setores estratégicos, aprofundamento dos acordos comerciais e da agenda de comércio e intensificação de diálogos em alto nível em várias áreas.
Um dos entraves à ampliação aos investimentos no Brasil é a instabilidade política? Os ataques a Brasília em 8 de janeiro prejudicam essa imagem?
Democracia estará seguramente no centro das conversas entre os dois presidentes. Ambos os governos já sinalizaram isso. Sendo as duas maiores democracias das Américas, há uma convergência natural de cooperação nessas áreas. Os acontecimentos no Brasil e nos Estados Unidos reforçam esta tendência.
Que oportunidades há para as empresas em termos de alinhamento da agenda verde entre Biden e Lula?
A agenda ambiental deve ser um assunto central na relação bilateral em 2023. Não seria surpresa para mim se algum tipo de acordo ambiental acabar sendo anunciado neste primeiro encontro entre os presidentes Lula e Biden.