Um passeio turístico por Buenos Aires ajuda a compreender geopolítica. Se você for jantar em Puerto Madero, algum dia desses, não se esqueça de olhar para o alto. Estique o pescoço e mire os letreiros que adornam o topo de alguns arranha-céus da região. Verá iniciais de nomes bancos e empresas chinesas. Entenderá como o dragão esticou suas patas sobre a América Latina no espaço deixado pelo isolamento dos Estados Unidos na era Donald Trump ("America first") e do Brasil sob Jair Bolsonaro.
Se em política não há vácuo de poder. Na geopolítica, muito menos. Para o bem e para o mal, os americanos exercem sua influência hegemônica sobre a região. E o Brasil - também para o bem e para o mal -, como maior potência economia latino-americana, também.
O isolamento político dos EUA - anterior até a Trump, em alguns aspectos, se pensarmos que desde o 11 de setembro de 2001, sua política externa se voltou para o Oriente Médio e, mais recentemente para o Oriente - abriu o flanco para que a China ingressasse com seu sedutor projeto "Belt and Road Initiative" - a Nova Rota da Seda. Sem falar na "diplomacia da vacina", com doações de máscaras, respiradores e vacinas em meio à necessidade urgente de combater a crise sanitária nos diferentes picos da pandemia.
Enquanto isso, o volume do comércio bilateral entre a China e a América Latina continuou aumentando. Projeções de Pequim indicaram que, em 2021, o ano do auge da pandemia, um valor de US$ 400 bilhões (R$ 2,27 trilhões).
Sem EUA e Brasil, o sopro do dragão foi sedutor. Não estranha a vontade do Uruguai de pular fora do barco do Mercosul.