Na troca de sorrisos, apertos de mãos e, principalmente, no discurso, a ministra Simone Tebet, que assumiu nesta quinta-feira (5) a pasta do Planejamento e Orçamento, buscou evitar sinais que pudessem ser interpretados como divergências com o colega de Esplanada, Fernando Haddad, da Fazenda.
No salão nobre do Palácio do Planalto, diante de uma plateia quase tão concorrida quanto a de Marina Silva, na véspera, a ex-senadora do MDB pelo Mato Grosso do Sul dirigiu-se a Haddad em várias ocasiões, classificando-o como "o ministro que tem as chaves do cofre". Fez um pronunciamento milimetricamente pensado para não provocar turbulências no mercado.
Fiel à sua postura liberal, repetiu promessas de não descuidar dos gastos públicos. E, mais uma vez afinada com Haddad, garantiu que pretende trabalhar pela reforma tributária, "que já esperou demais".
Simone também fez questão, logo no início, de desfazer ruídos sobre sua preferência pelo Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, a joia da coroa do PT. Para tanto, tornou pública uma história que já era conhecida nos bastidores: na véspera do Natal, ela viajou no mesmo avião de Lula para São Paulo. Ao chegar lá, antes de se despedirem, o então presidente eleito a entregou um bilhete, pedindo que lesse apenas depois de passar a meia-noite com sua família. Simone, obviamente, abriu o recado antes. Nele, estava o convite para assumir o Planejamento.
— Quero expressar minha gratidão por ter me entregue uma das mais importantes pastas do governo. Planejamento trata do futuro e do presente. Orçamento está no dia a dia — afirmou, nesta quinta-feira, diante de praticamente todas as ministras da Esplanada.
Apesar disso, ela deixou clara sua preferência pela área social. Buscou mostrar que trará essa visão para a pasta do Planejamento, conhecida pela tecnicidade. Mas o fez de forma indireta, utilizando-se de promessas de Lula, como a de "colocar os pobres no orçamento".
Sua fala foi também cheia de metáforas para tentar exprimir, em linguagem simples, a importância do ministério que assume: comparou ao fato de ir a uma farmácia e comprar o medicamento pelo preço, e não segundo a necessidade. Ou o fato de enfaixar o braço, enquanto a verdadeira enfermidade é uma úlcera.
Uma das principais promessas práticas veio seguida de memórias: a ministra lembrou da primeira vez em que entrou em uma sala de aula como professora universitária, ao dizer que deseja tirar do papel o Plano Nacional de Desenvolvimento Regional, salientando a diversidade dos Estados brasileiros.
— Não é possível que a pobreza tenha como cara uma mulher brasileira — afirmou.
Mais uma vez de olho no mercado, prometeu combater a dívida pública e a inflação.
— A inflação come o salário do brasileiro, encarece investimentos, atrapalha a geração de empregos. Inflação vem da instabilidade política. E instabilidade é coisa do passado — declarou.
Antes de encerrar, anunciou a criação da Secretaria de Avaliação e Monitoramento de Política Públicas. Também convidou o Tribunal de Contas da União (TCU), representado pelo presidente Bruno Dantas, a ocupar uma das diretorias do ministério.
— Porque pior do que gastar dinheiro é gastar mal.
Mais uma vez, ao final retornou a sua área preferida, a social, para arrematar:
— Política social não existe sem planejamento.