Na falta de posições mais claras dos chefes máximos de Rússia e Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), cabe a representantes do segundo escalão deixar de lado as meias palavras sobre o conflito na Ucrânia. Até as paredes do quartel-general da aliança militar, em Bruxelas, sabem que o grupo está diretamente envolvido na guerra desde o início, em 24 de fevereiro do ano passado. Assim como o Kremlin também reconhecem que o confronto não é por causa da Ucrânia. Mas por causa da Otan. Mas alguém precisa dizer isso já que seus chefes titubeiam.
Coube ao presidente do Comitê Militar da aliança atlântica, almirante Rob Bauer, da marinha da Holanda, afirmar que a Otan está preparada para um conflito direto com a Rússia e defendeu que os membros mantenham uma "economia de guerra" em tempos de paz.
- Depois do início da guerra, fizemos grupos de batalha ao longo do flanco oriental. Tínhamos quatro no Norte, nos três Estados bálticos e na Polônia. Os líderes da Otan, em Madrid, decidiram criar mais quatro grupos de batalha, na Eslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária, e essencialmente reforçar esses grupos, torná-los um pouco maiores, dar-lhes mais algum apoio bélico, estoques de munição e outras coisas. Creio que isso é uma mensagem importante para os russos, de que a nossa postura mudou e estamos preparados se eles tiverem a ideia de atacar a Otan - afirmou à emissora portuguesa RTP.
Por parte da Rússia, no dia 10, o secretário do Conselho de Segurança de Vladimir Putin, Nikolai Patrushev, já havia expressado algo semelhante, admitindo que Moscou agora está lutando na Ucrânia contra a Otan.
- Os eventos na Ucrânia não são um confronto entre Moscou e Kiev. São um confronto militar entre a Otan e, sobretudo, os Estados Unidos e a Inglaterra, com a Rússia - afirmou ao jornal russo Argumenti i Fakti.
Putin decidiu que não irá perder a guerra, o que pode lhe custar o trono em Moscou. Está a ponto de fazer uma convocação geral para todos os cidadãos pegarem em armas - primeiro, ele utilizou tropas regulares, depois mercenários, chamou reservistas e, na última leva, agora testa prisioneiros no front. A Otan, no início titubeante, resolveu que a Ucrânia também não sairá derrotada, o que, em aspectos internos da aliança militar, pode resultar em desprestígio de governos que apostaram alto, como o de Joe Biden, nos Estados Unidos, e de Olaf Scholz, da Alemanha. Biden, que já mandou US$ 30 bilhões em ajuda à Ucrânia, e recentemente anunciou o envio de seus poderosos tanques M1 Abrams, entra em campanha pela reeleição no meio do ano. Scholz, que também confirmou que irá mandar blindados, os Leopard 2, deseja ocupar o papel histórico que, outrora, foi de Angela Merkel.
O que demarca a fronteira de um confronto direto entre os dois lados? Desde o início do conflito, há pouco mais de 11 meses, Otan e Rússia testaram os limites da paciência de cada um, tensionando ao máximo a corda: o Kremlin fazendo cair seus mísseis perto da fronteira polonesa, enquanto a Otan transformando o caminho para Kiev em uma free way para armamentos. A realidade crua, agora, se impõe: os dois lados estão muito perto de um confronto direto. Não apenas por questões militares. Mas, principalmente, por dinâmicas políticas internas.