Após meses enfrentando dificuldades para avançar nas regiões separatistas, graças à resistência ucraniana, a Rússia estaria preparando, para abril (primavera no Hemisfério Norte), uma grande ofensiva com o objetivo de ocupar, de vez, a região do Donbass - onde ficam localizadas Donetsk e Luhansk. A ação, no Leste, viria acompanhada de nova incursão pelo Norte, a partir de Belarus, a exemplo do início da guerra, porém, mais incisiva. Isso obrigaria as forças ucranianas a se dividir para defender dois lados. O front Leste permanece praticamente inalterado desde 9 de novembro de 2022, quando a Rússia anunciou a retirada de tropas da cidade de Kherson, em meio à contraofensiva ucraniana.
O Ocidente segue buscando um equilíbrio entre apoiar a Ucrânia e, ao mesmo tempo, não entrar diretamente no conflito, a ponto de provocar a Rússia a agir contra a algum país da Otan. Mas, desde o início da guerra, Europa e Estados Unidos enviaram armas de defesa e servem, com informações de inteligência, o país atacado. Diante de possível ofensiva de primavera da Rússia, armas até pouco tempo atrás negadas estão sendo enviadas para a Ucrânia - ou consideradas para envio.
O novo "presente" do Ocidente são seus tanques Leopard-2 (Alemanha) e M1 Abrams (EUA), cujo anúncio do envio levou a uma imediata chuva de mísseis deflagrada pela Rússia sobre a Ucrânia na quinta-feira (26). O Kremlin, inclusive, teria utilizado na ofensiva o Kinjal, modelo hipersônico anunciado por Vladimir Putin como uma arma "invencível".
Antes, os Estados Unidos anunciaram o envio de uma bateria do sistema de defesa de mísseis Patriot, que, há tempos o governo ucraniano solicitava. A França declarou que enviará um número não especificado de tanques leves de combate AMX-10 RC. O Reino Unido anunciou a entrega de tanques de guerra Challenger 2, tornando-se assim o primeiro país a fornecer veículos de combate MBT de construção ocidental à Ucrânia.
A verdade é que a Rússia, considerada a terceira mais poderosa força militar do mundo (atrás de EUA e China), se mostrou, no terreno, muito menor do que se supunha. A aventura de Putin na Ucrânia expôs erros primários - suas cadeias de suprimentos não funcionam a algumas dezenas de quilômetros de suas próprias fronteiras, e seu exército perdeu até um general na guerra. O comando das forças agora está a cargo do chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov, leal a Vladimir Putin. Isso pode sinalizar que o Kremlin perdeu a confiança em seus comandantes militares e quer trazer para dentro de suas muralhas as decisões do front.
Putin, embora mantenha o tom desafiador diante do público interno, está em boa parte isolado dos mercados financeiros internacionais, mas conta com o apoio, ainda que dissimulado, da China. As sanções econômicas adotadas pela Europa, Estados Unidos, Canadá, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e outros parceiros do Ocidente impuseram à Rússia pesados danos econômicos. Mais de mil empresas saíram da Rússia, causando um rombo de 40% na produção de riquezas do país.