Por décadas, quando silenciam os canhões, a pergunta do pós-guerra costuma ser: quem pagará a conta da destruição? São as chamadas reparações. E a resposta é relativamente simples: quem causou o conflito. Como a história costuma ser contada pelos vencedores, também não é difícil prever quem desembolsará o bilhões para erguer a infraestrutura de uma nação: os derrotados.
Foi assim ao final da Primeira Guerra Mundial, em 1919, quando, pelo Tratado de Versalhes, a Alemanha foi declarada única culpada pela guerra. Derrotada no campo de batalha, precisou desembolsar um valor fixado em 1921 de US$ 33 milhões. Reparações costumam despertar desejos de vingança - não à toa, a História costuma atribuir a esse processo a desestabilização econômica alemã, o fim da República de Weimar e a ascensão de Hitler ao poder, que desembocariam na Segunda Guerra Mundial. Por isso, ao final de 1945, os Aliados buscaram evitar o erro e compartilhar a responsabilidade (e os custos da reconstrução) - até porque precisavam de uma Alemanha a seu lado, na Guerra Fria. Nascia o Plano Marshall.
Na guerra contra as mudanças climáticas, é semelhante. Os países mais vulneráveis a furações, inundações e secas, entre outras catástrofes aprofundadas pelo aquecimento global, são os derrotados do clima. E normalmente são os mais pobres.
Por isso, é histórica a decisão da COP27, no Egito, que terminou na madrugada deste domingo (20), após duas semanas: pela primeira vez, os países concordaram na criação de um fundo de reparação de perdas e danos. A prioridade será para países africanos, nações-ilha e outras 58 economias mais vulneráveis. Em outras palavras, ainda que implicitamente, os países desenvolvidos reconhecem que, com seu acelerado processo de industrialização, provocaram as alterações no clima do planeta.
O acordo ainda engatinha. Está longe de ter formato acabado, algo que ficará para a COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em novembro de 2023. Mas um tabu foi quebrado. Não é exagero dizer que pode estar nascendo um Plano Marshall para o clima. É a hora dos derrotados.