Assim com Liz Truss, Rishi Sunak, que deve assumir nesta terça-feira (25) como novo primeiro-ministro do Reino Unido, tem méritos.
Ela foi a mais vocal das ministras do governo Boris Johnson na guerra do Ocidente contra a Rússia, como chanceler do governo. Sunak, por sua vez, liderou o país, uma das maiores economias do mundo, durante a pandemia de coronavírus, como ministro da Fazenda. Ambos pularam fora do barco de Johnson, quando a embarcação estava naufragando.
Mas a verdade é que tudo está contaminando. Sabe quando uma casa de madeira está impregnada de cupim? É assim: você se livra de uma estante, pensando resolver o problema, mas logo, os insetos estão em outro móvel - no piso, e, logo depois, nas vigas todas.
E, assim, vislumbramos o colapso da estrutura.
O Partido Conservador, desde 2010 no poder, está contaminado. Não há mais como seguir no poder no Reino Unido. No fundo, Sunak, Penny Mordaunt, que disputou o cargo com o vencedor, mas não conseguiu aos cem votos mínimos na votação interna, e Truss estão viciados por medidas que pouco variam, contaminados e desgastados pelo poder, pela falta de criatividade.
O fato de Sunak ser o primeiro chefe de Governo a ser nomeado pelo novo rei, Charles III, é daquelas efemérides que só interessam aos amantes das histórias da realeza. Os atos pouco impactam na realidade política britânica, em que os súditos veem seu custo de vida aumentar, junto com os preços, e a libra esterlina, outrora uma das mais poderosas moedas do mundo (a ponto de o Reino Unido não ter ingressado na zona do euro), despencar.
Só o fato de se cogitar a volta de Johnson ao poder já é um sintoma do mal-estar de nossa civilização - por um lado, a capacidade de políticos defenestrados por seus pares voltarem das catacumbas da política; por outro, pelo fato de partidos estarem sequestrados por seus líderes. Não surgem novos nomes, porque os caciques das legendas não o permitem, uma vez que dominam o partidos - à direita e à esquerda, nos hemisférios Norte e Sul.
Sunak tem 42 e é o mais novo político a assumir o poder no Reino Unido em 200 anos de História.
Por que muda sem mudar? Porque Sunak seguirá, uma vez no poder, a mesma cartilha de quem está em Downing Street desde 2010. Ainda que tenha origem em uma minoria étnica - pela primeira vez um não branco será primeiro-ministro do Reino Unido -, dificilmente a representará. Com sua esposa, Akshata Murty, filha de um bilionário indiano, ele tem uma fortuna estimada em 730 milhões de libras (R$ 4,3 bilhões), o equivalente a mais do que o dobro dos bens pessoais do rei Charles III e de Camilla Parker Bowles, a rainha consorte, avaliados em 350 milhões de libras (R$ 2,1 bi).
Sunak precisará lidar não apenas com aspectos econômicos, mas com a imigração, assunto que Johnson e Liz Truss tiveram pouco tato para lidar, como adotaram atitude draconiana - no caso do futuro premier, ele aprova o envio de migrantes ilegais para Ruanda, ideia esdrúxula e uma violação de direitos humanos de que Johnson foi poupado (após pressões e decisão judicial) de empreender. Só por essa posição já se compreende que o fato de Sunak ser descendente de imigrantes não o fará "amigo" dos mesmos.
Mais cedo ou mais tarde, Sunak cairá porque não há unidade em seu partido, o Conservador, e porque, a julgar as preferências das pesquisas, o desejo expresso dos britânicos é por eleições gerais antecipadas.