Quase cinco meses depois da morte de André Hack Bahi na Ucrânia, a família do gaúcho ainda não recebeu as cinzas, certidão de óbito e pertences do combatente. Ele foi o primeiro brasileiro morto no atual conflito. Segundo a irmã, Letícia Hack Bahi, a família em Porto Alegre está profundamente incomodada com a demora e o que considera falta de transparência por parte do Itamaraty.
Em troca de mensagens obtidas pela coluna, o Ministério das Relações Exteriores relatou, na segunda-feira (24), que a Embaixada do Brasil em Kiev informou já ter sido emitida a certidão de óbito. Caberia agora a um despachante ucraniano o contato para acertar os detalhes do envio da urna funerária, "o que deve ser feito em breve".
A família em Porto Alegre, onde vivem os pais de André, e em Maranguape (Ceará), onde está a viúva, Riana Maria Andrade Moreira, afirmam receber poucas informações sobre os trâmites.
— É uma falta de respeito. O pior é que eu mando mensagens para eles (Itamaraty) e não tenho retorno — diz Riana.
Pelo que a família sabe, o corpo do gaúcho foi cremado na capital ucraniana. Letícia, a irmã, relata que, além da urna com as cinzas, os parentes aguardam os pertences de André, como roupas, aparelhos de celular e as medalhas recebidas como combatente pelo governo ucraniano. Um bandeira do Brasil, que André exibia com orgulho em vídeos e fotos em redes sociais, teria caído em mãos de combatentes chechenos que lutam ao lado dos russos. O símbolo brasileiro chegou a ser exibido como troféu de guerra pelos guerrilheiros.
— Todas as famílias que perderam brasileiros na guerra já receberam os restos mortais. Do André, nada. E ele foi o primeiro brasileiro a morrer no conflito — lamenta a irmã.
Natural de Porto Alegre, André, 43 anos, se juntou às tropas da Ucrânia como voluntário para defender o país em 28 de fevereiro, quatro dias depois do início da guerra. Ele morreu no dia 4 de junho, em combate em Severodonetsk, no leste da Ucrânia. Outros dois brasileiros morreram até agora nos combates no país invadido: o também gaúcho Douglas Búrigo, 40 anos, e a paulista Thalita do Valle, 39. As cinzas dos dois já foram entregues às famílias. No caso do gaúcho, uma cerimônia de despedida foi organizada em São José dos Ausentes, nos Campos de Cima da Serra, em setembro, para a despedida.
Em resposta à coluna, o Itamaraty informou que "o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada em Kiev, prestou toda a assistência cabível à família do nacional", mas que "não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros", "em observância ao direito à privacidade".
Leia a íntegra da nota do Ministério das Relações Exteriores:
"O Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada em Kiev, prestou toda a assistência cabível à família do nacional, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local.
Em caso de falecimento de cidadão brasileiro no exterior, os consulados brasileiros poderão prestar orientações gerais aos familiares, apoiar seus contatos com autoridades locais e cuidar da expedição de documentos, como o atestado consular de óbito.
Ressalte-se que, em observância ao direito à privacidade e ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, mais informações poderão ser repassadas somente mediante autorização dos familiares diretos. Assim, o MRE não poderá fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.
Atenciosamente,
Divisão de Assessoria de Imprensa
Ministério das Relações Exteriores."