Não durou nem 12 horas a convergência da solidariedade entre diferentes forças políticas diante da tentativa de assassinato sofrida pela vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, no momento em que chegava em sua residência, no bairro da Recoleta, em Buenos Aires, na noite de quinta-feira (1º). Nesta sexta-feira, governo e oposição voltaram a se digladiar, transformando o ato em motor de divergências políticas que devem se acirrar nos próximos meses, até a eleição presidencial do ano que vem.
O ex-presidente Maurício Macri, rival de Cristina, foi um dos primeiros a se manifestar, repudiando o atentado:
- Meu repúdio absoluto ao ataque sofrido por Cristina Kirchner, que felizmente não teve consequências para a vice-presidente. Esse gravíssimo incidente exige um esclarecimento imediato e profundo por parte da Justiça e das forças de segurança - disse.
Mas, logo, o clima de solidariedade deu lugar, novamente, à polarização política, depois de um pronunciamento em rede de TV, em que o atual presidente, Alberto Fernandez, decretou feriado nacional. A ideia é era que seguidores de Cristina pudessem prestar seu apoio à líder, fazendo vigília em frente a sua residência. No entanto, a oposição vê gesto de Fernández uso político do ataque. Patricia Bullrich, presidente do PRO e ex-ministra da Segurança, foi uma das últimas a se manifestar: "O presidente está brincando com fogo: em vez de investigar seriamente o fato grave, acusa a oposição e a imprensa, e decreta um feriado para mobilizar militantes", escreveu em uma rede social.
"Ele converte um ato de violência individual em uma jogada política. Lamentável", continou.
Em sua declaração na TV, Fernández considerou o ataque contra Cristina uma ofensiva com "gravidade institucional e humana".
Outro que se manifestou contra a reação de Fernández foi o líder do Peronismo Republicano, Miguel Ángel Pichetto, que horas antes havia repudiado o ataque.
"O presidente não entende nada. A oposição repudiou o fato e se solidarizou com a vice-presidente. O presidente, por sua vez, lança a culpa à oposição, à Justiça e aos meios de comunicação. Em seguida, decreta feriado nacional. Para quê? Tudo patético", afirmou, também em rede social.
O deputado Fernando Iglesias também criticou o que chamou de "tentativa do presidente e do Partido Justicialista de responsabilizar a oposição, a Justiça e os meios independentes".
Pobre Argentina! O país que vive uma das piores crises dos últimos anos - com taxa de inflação de 70% ao ano, em seu terceiro ministro da Economia em um mês, praticamente sem acesso a capital internacional e devendo mais de US$ 40 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI) - mergulha, agora, em uma onda de violência política e radicalização com potencial de jogar a segunda maior economia da América do Sul alguns metros abaixo do fundo do poço.