Parte lenda, parte verdade, trata-se de uma tradição entre os jornalistas que cobrem a política de Washington: sempre que pressionado por questões domésticas, o presidente dos Estados Unidos deflagra uma jogada externa para desviar o foco dos problemas internos.
Tanto que essa tática é habitual no enredo de séries sobre a política americana: de "House of Cards" a "Designated Survivor", passando por outras de menor projeção.
Não há como olhar para os dois episódios das últimas 24 horas envolvendo a política americana e não lembrar dessa tradição: Joe Biden, pressionado por inflação nas alturas, popularidade em baixa e risco de uma hecatombe eleitoral em novembro, nas midterms, o governo americano despacha drones para matar um dos principais terroristas do mundo, Ayman al-Zarkawi. Horas depois do anúncio da morte, seu braço direito no Legislativo, a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, abre uma crise com a China devido a sua visita a Taiwan.
Um dos casos mais conhecidos da crônica política americana dessa "cortina de fumaça" foi no governo Bill Clinton, em em que o presidente era pressionado pelo escândalo sexual com a estagiária Monica Lewinsky em 1998 - e, de quebra, deflagrou bombardeios ao Sudão e ao Afeganistão.
Aliás, o filme "Mera Coincidência" (1997), com Robert De Niro e Dustin Hoffmann, antecipou o escândalo Lewinsky. E, no caso, o conflito "inventado" era na Albânia. Nos tempos modernos, desinformação, fake news e "fatos alternativos"
No caso de Biden, pode ser, de fato, mera coincidência, mas chama atenção que Al-Zawahiri foi morto na sacada de um prédio em uma área movimentada de Cabul - o que leva a pensarmos que os serviços de inteligência americanos sabiam, havia vários dias, de sua presença na cidade. Aliás, provavelmente, protegido pelos talibãs.