Na história da caçada aos terroristas, empreendida pelos Estados Unidos desde 2001, a morte de Ayman Al-Zawahiri, anunciada na noite de segunda-feira (1º) pelo presidente Joe Biden, tem, até agora, três capítulos fundamentais: o assassinato de Osama bin Laden, em 2011, no governo Barack Obama, a eliminação de Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico, em 2019, e, agora, a de Al-Zawahiri, da Al-Qaeda, em 2022.
O médico egípcio é figura tão importante quanto Bin Laden, ele seria o cérebro por trás dos atentados praticados pela Al-Qaeda. Enquanto o líder da rede era a figura mais conhecida e "carismática" para os radicais, Al-Zawahiri era o arquiteto, o mentor intelectual dos crimes.
Os atentados a Nova York e Washington, que deixaram 3 mil mortos em 11 de setembro de 2001, são apenas os mais conhecidos. Mas Al-Zawahiri tinha uma extensa ficha desde que se uniu a Bin Laden. A primeira ação foi o ataque ao destroier americano USS Cole, em 2000, no Iêmen, que matou 17 marinheiros americanos. Depois, em 1998, as explosões das embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, que tiraram a vida de 224 pessoas, e, joia da coroa da Al-Qaeda, os ataques às torres gêmeas e ao Pentágono.
Os dois mísseis Hellfire, disparados de drone contra a sacada do prédio em Cabul, onde estava Al-Zawahiri, matam o terrorista, dão um golpe fatal na Al-Qaeda, que já não tinha forças havia vários anos (suplantada, dentro da ideologia terrorista, pelo EI), mas mostra também que o Talibã, a despeito de seus discurso ameno, continua protegendo extremistas internacionais.
No campo doméstico, Biden consegue dar uma respirada em meio a sucessivas crises: inflação batendo recordes, alta de combustíveis, recessão técnica e baixa popularidade. Além disso, o presidente americano tem sido criticado por ser considerado um líder fraco na guerra na Ucrânia e diante dos desafios globais, como a ameaça de Rússia e China e o mundo pós-pandemia.
Essa visão, vendida inclusive por seus rivais (Trump e Partido Republicano), começou a se consolidar, na prática, com a catastrófica saída das tropas americanas do Afeganistão, em 2001. A retirada era plano de Trump, mas a organização caiu no colo de Biden - e foi mal planejada e executada, levando o Talibã a retomar o poder em Cabul e a cenas dantescas de fuga da capital.
Como já escrevi aqui, a recessão é o golpe fatal ao governo Biden nas eleições de meio de mandato (as midterms), quando será renovada parte do Congresso. Os democratas devem perder a frágil maioria.
Mas a morte de Al-Zawahiri dá alguma esperança para o governo, que se vangloria de que a retirada do Afeganistão não foi um erro. Ao contrário, de que é possível manter a guerra ao terror eficaz, mesmo sem soldados no terreno.