Rodrigo Lopes

Rodrigo Lopes

Formado em Jornalismo pela UFRGS, tem mestrado em Ciência da Comunicação pela Unisinos e especialização em Jornalismo Ambiental pelo International Institute for Journalism (Berlim), em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário, e em Estudos Estratégicos Internacionais pela UFRGS. Tem dois livros publicados. Como enviado do Grupo RBS, realizou mais de 30 coberturas internacionais. Foi correspondente em Brasília e, atualmente, escreve sobre política nacional e internacional.

Crise internacional
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A recessão chegou aos EUA: o governo Biden acabou

Democratas devem perder maioria no Congresso nas eleições de novembro

Rodrigo Lopes

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Brendan Smialowski / AFP
Joe Biden, presidente dos EUA

O Brasil de 2022 precisa estar vacinado em relação a fenômenos já observados mundo afora a fim de não se iludir: polarização não termina com eleição. Ganhe Jair Bolsonaro ou Luiz Inácio Lula da Silva - ou qualquer outro -, o fenômeno seguirá após o pleito. Os Estados Unidos são o melhor exemplo: Donald Trump foi derrotado em 2020, mas o trumpismo não apenas segue como um fantasma no Salão Oval da Casa Branca como domina as cabeças dos caciques do Partido Republicano. 

E um ingrediente a mais nessa polarização chegou na sexta-feira (29) com o país entrando em recessão técnica. Isso significa que a crise econômica, que vem derrubando governos na Europa, pegou a caravela, cruzou o Atlântico e desembarcou nas terras do Tio Sam. Claro que não é de agora, os americanos já estão em crise há algum tempo. Mas o fato de registrarem dois trimestres seguidos de Produto Interno Bruto (PIB) negativo - padrão para que um país seja considerado em recessão técnica - é  simbólico. Por mais que governo e oposição tentem tergiversar. Aliás, estamos na era da relativização, dos questionamentos dos conceitos e significados das palavras. Na quinta-feira (28), questionei o que o general ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, entende por democracia. Ora... democracia é democracia, o respeito às instituições, à liberdade de imprensa, expressão e, em última análise, à Constituição. Mas, no que diria Zygmunt Bauman, como estamos nos tempos da modernidade líquida: amor, medo, riqueza, vida e política são conceitos que se esfarelam, ou melhor, escorrem pelas mãos. 

Assim, há quem, nos Estados Unidos, esteja inclusive questionando o que é recessão: Paul Krugman, colunista do The New York Times, publicou texto explicando, supostamente, por que não devemos declarar recessão, defendendo em título: "Ignore a regra de dois trimestres". A resistência à palavra vinha de antes, quando o assessor econômico do governo Biden, Brian Deese, adiantou-se ao anúncio do PIB dizendo que dois trimestres não seria a definição técnica de recessão. Queria reinventar a roda. Logo, foi desmascarado: foi achada uma declaração sua na imprensa, anos antes, dizendo o contrário.

 Dois trimestres consecutivos de PIB negativo é e sempre será recessão técnica. Assim como democracia é e sempre será o respeito às instituições e à Constituição. Tudo trata-se de uso político de expressões e conceitos. Mas há impactos: o governo Biden, por exemplo, acabou. Dificilmente o Partido Democrata irá vencer as midterms, eleições de meio de mandato, previstas para novembro para renovação do Congresso. Pelas pesquisas, haverá ampla vitória republicana. O retrato do futuro está no presente: popularidade em baixa (71% dizem que o país está na direção errada), sem resolver o problema da inflação e fraco em temas internos, depois do fracasso da saída do Afeganistão demonstra-se fraco diante da Rússia na guerra da Ucrânia. 

A crise, que derrubou governos na Europa (o britânico Boris Johnson e o italiano Mario Draghi), tem raízes econômicas, domésticas. Mas a conjuntura global os afetou drasticamente. Biden não cairá, porque estamos falando de um regime presidencialista. Mas o democrata e o presidente eleito em outubro no Brasil (em primeiro ou segundo turnos) devem ficar atentos, mais do que nunca, ao que ocorre fora das fronteiras.

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