Dias atrás, escrevi que a Rússia estava virando o jogo na Ucrânia, depois do fracasso do início da guerra, ao tentar, sem sucesso, conquistar a capital, Kiev.
A ocupação de Severodonetsk, na batalha que provocou várias baixas entre os ucranianos e seus aliados - entre elas a morte de um voluntário brasileiro -, deu às tropas de Vladimir Putin gás para cruzar o rio Donets e, no último sábado (2), conquistar Lisitchansk. Esta era a última grande cidade da região de Luhanks que ainda não havia caído para o lado russo.
Em um primeiro momento, o governo do presidente Volodimir Zelensky resistiu em aceitar a derrota, mas, quando as imagens dos soldados de Putin passeando por ruas de Lisitchansk ganharam o mundo, foi impossível segurar a versão de que tudo não passaria de desinformação propagada pelo Kremlin. Lisitchansk caiu, e, com ela, Luhansk inteira.
A vitória foi celebrada até no espaço. Cosmonautas russos na Estação Espacial Internacional posaram com a bandeira do país: "Todo o território da República Popular de Luhansk foi libertado; esse é um dia esperado para os moradores das áreas ocupadas há oito anos", dizia o texto que acompanha as fotos divulgadas pela agência Roscosmos.
A conquista de Luhansk é um passo importantíssimo na virada de jogo de Putin na Ucrânia. Junto com Donetsk, ela forma o Donbass, região do leste da Ucrânia que faz fronteira com a Rússia. A área está em guerra entre forças regulares ucranianas e separatistas pró-Rússia, desde 2014. Na ocasião, rebeldes declararam a independência das duas províncias (autoproclamando-as "Repúblicas"), aproveitando o ensejo que as tropas de Putin haviam ocupado a península da Crimeia, ao Sul.
Três dias antes do início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, Putin reconheceu a independência das "repúblicas populares" de Luhanks e Donetsk, preâmbulo da guerra. A suposta informação de que o governo de Zelensky persegue a população de falantes russos na região foi o argumento falacioso para a invasão.
Passados quatro meses de conflito, há ganhos constantes dos russos no leste do país, enquanto as forças da Ucrânia dão mostras de carência de munição no front. Depois de não conseguir ocupar Kiev, graças à resistência acima do esperado por parte dos ucranianos e devido a problemas logísticos russos, nos primeiros dias do conflito, os generais de Putin mudaram a estratégia, recuando as tropas e as reagrupando para que focassem no Donbass. Deu resultado. Com Luhansk sob seu controle, Putin parte agora para Donetsk. Cerca de 20% da Ucrânia já está em suas mãos.