A história do avião "fantasma" que está retido na Argentina ganhou contornos ainda mais misteriosos nos últimos dias. Agora, segundo a agência de inteligência do Paraguai, um dos pontos onde a aeronave aterrissou em seu périplo por países da América Latina, um tripulante do aparelho teria feito cirurgia para mudar o formato do rosto, em Cuba.
A a aeronave, um Boeing 747 da empresa de transporte aéreo Emtrasur, da Venezuela, deixou o México transportando peças para automóvel. Pousou em Caracas, na Venezuela, antes de seguir viagem para o Paraguai, onde aterrissou no Aeroporto Internacional Guaraní, nos arredores de Ciudad del Este, em 13 de maio. Decolou no dia 16 de maio com destino a Aruba. Em 6 de junho, a aeronave pousou em Córdoba, na Argentina, e, sem autorização para sobrevoar o Uruguai, pousou no Aeroporto Internacional de Ezeiza, próximo à capital. Sua tripulação, composta por cinco iranianos e 14 venezuelanos, está retida em um hotel de Canning, na província de Buenos Aires.
Nesta sexta-feira (1º), o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, acrescentou mais uma dose de mistério à história. Em entrevista, afirmou que o serviço de inteligência do país descobriu que um dos tripulantes teria feito uma cirurgia na ilha de Cuba. Ele não identificou a nacionalidade ou o nome da pessoa.
- Imaginem! Parece filme - disse.
Sem dar maiores detalhes, o presidente afirmou ainda que boa parte da tripulação teria conexões com o terrorismo internacional. Uma das suspeitas é com relação ao piloto, identificado como Gholamreza Ghasemi, iraniano homônimo de um capitão das Brigadas Al-Quds, tropa de elite da Guarda Revolucionária do Irã, acusada de terrorismo pelos Estados Unidos. Em seu celular foram encontradas fotos de carros de combate, armas e bandeiras com frases contra Israel. As autoridades suspeitam de que o piloto e o capitão da Guarda sejam a mesma pessoa.
Por onde passou, o avião provocou suspeitas. No caso paraguaio, a aeronave decolou para Aruba com cigarros. No país, o tema despertou interesse porque foi descoberto que a carga era de propriedade da empresa Tabacalera del Este SA (Tabasa), pertencente ao ex-presidente Horacio Cartes, rival político de Benítez.
A parada em Ciudad del Este também é suspeita. A região na Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina é conhecida pela atuação do Hezbollah, que manteria ali células adormecidas com capacidade para entrar em operação terrorista quando chamadas.
Na Argentina, há outras suspeitas. A aeronave de prefixo YV3531 foi vendida há um ano pela Mahan Air, empresa iraniana ligada às autoridades do regime de Teerã. A compradora foi a Emtrasur, subsidiária da venezuelana Conviasa, sob sanções por parte dos EUA.
Segundo a Justiça argentina, os motivos alegados para a viagem pelos tripulantes "não condizem com a verdade". O transponder, equipamento que permite o rastreamento da rota e evita que aeronaves colidam no ar, foi desligado, o que é proibido por normas internacionais de segurança de voo.
Na Argentina, o tema também divide a classe política. O governo, por meio da Unidade de Informação Financeira, considerou que não estão dadas as condições para incluir os tripulantes no registro público de pessoas e entidades vinculadas a atos de terrorismo. O pedido havia sido feito por deputados da oposição ao governo do presidente Alberto Fernández.
A Argentina já foi alvo do terrorismo islâmico nos anos 1990. Em 1992, um carro-bomba destruiu a Embaixada de Israel em Buenos Aires, matando 29 pessoas e deixando 242 feridas. Dois anos depois, um outro atentado, contra a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), matou 85 pessoas e feriu 300. As autoridades argentinas concluíram que os responsáveis pelos atentados haviam sido treinados e financiados por autoridades iranianas.