Às vésperas dos 150 dias de guerra, a Ucrânia tem anunciado o início de um contra-ataque que sugere uma mudança de rumo no conflito. Sem conseguir avançar sobre Kiev, na primeira fase dos combates, em fevereiro, a Rússia recuou, reorganizou tropas e tática e passou a apostar na tomada de territórios no sul do país (Mariupol e Kherson), criando uma ponte terrestre entre o território russo e a Crimeia ocupada em 2014, e no Leste, na região do Donbass, onde estão as províncias separatistas de Donetsk e Luhansk. Hoje, se olharmos o mapa da Ucrânia, há um "V" imaginário, na horizontal, com terras ocupadas pela Rússia.
O que estaria em andamento, agora, seria uma contraofensiva ucraniana para retomar as áreas do Sul. Isso porque ali estão localizados importantes portos, fundamentais para a economia do país.
No final de semana, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, anunciou, em entrevista ao The Times, de Londres, que o país teria reunido 1 milhão de combatentes para reconquistar essas cidades. Primeiro, o foco seria Kherson, no Mar Negro. Mariupol, no Mar de Azov, e onde a ocupação russa está mais consolidada, é mais problemático.
Nas últimas horas, as forças russas estão em grande parte na defensiva na região. O Comando Operacional Sul ucraniano disse que três depósitos de munição inimigos foram atingidos em Mykolaiv. Helicópteros também atacaram posições russas em Kherson.
No Donbass, a situação é mais delicada: ali, a Ucrânia sofreu suas mais pesadas baixas até agora, inclusive com a morte de voluntários estrangeiros (entre eles brasileiros) em combate. Há combates generalizados com artilharia russa em Donetsk e Kharkiv.
A capacidade de a Ucrânia sustentar uma contraofensiva é duvidosa. Primeiro porque quem prepara uma grande ofensiva não anuncia. Executa. Segundo porque concentrar 1 milhão de combatentes, após quase cinco meses de conflito, não é simples. O grosso das tropas ucranianas está posicionada no Donbass, mais delicado front da guerra. Se a Ucrânia perder ali, a Rússia pode declarar a vitória na guerra devido ao poder simbólico de Donetsk e Luhansk, reconhecidas como independentes pelo Kremlin três dias antes da invasão.
O fato é que os novos movimentos já são percebidos a partir do recrudescimento das ações de violência nas últimas horas. Civis estão na linha de fogo. As forças russas realizaram uma série de ataques a áreas residenciais, provocando dezenas de vítimas. Na segunda-feira (11), seis pessoas foram mortas e outras 31 ficaram feridas em ataques com foguetes em Kharkiv, enquanto outras 12 foram feridas em Mykolaiv. Pelo menos 35 pessoas morreram depois que foguetes russos atingiram um prédio residencial em Chasiv Yar no sábado (9).
Uma nova fase da guerra virá, sem dúvidas, acompanhada de mais terror para a população civil.