A pergunta de US$ 1 milhão é a seguinte: até quando irá a guerra na Ucrânia?
Obviamente, ninguém sabe quando o conflito terminará. Mas arrisco dizer que ele durará até quando a Rússia esgotar sua capacidade de fogo. E isso não estaria longe de ocorrer. Informações de agências de inteligência e declarações de alguns líderes políticos e militares dão conta de que as forças armadas de Vladimir Putin estariam próximas do esgotamento. Segundo eles, seria muito difícil para as tropas sustentar avanços conquistados na região do Donbass, especialmente em Severodonestk, palco de batalhas duras nas últimas semanas.
São três os principais problemas russos no campo tático: gastos pesados com munição, perdas de equipamentos e custos humanos, por morte e escassez de soldados. Como se viu, a Rússia subestimou a resistência ucraniana em Kiev - e fugiu da guerra urbana, reconcentrando o esforço no leste do país, onde ainda há alguma chance de Putin construir uma narrativa vencedora. Afinal, na região, os russos contam com o apoio de grupos armados separatistas, em combate desde 2014.
Essa é uma parte da resposta à pergunta sobre até quando o conflito irá durar. Há outra.
A guerra irá até quando o Ocidente suportar o esforço ucraniano. E, embora os recursos não sejam infinitos, são muito superiores aos da Rússia.
Por isso, é determinante a reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que ocorre entre terça (28) e quinta-feira (29), em Madri. Nos últimos 30 anos, questionava-se a existência da aliança militar em um mundo no qual a URSS colapsara e, com ela, o Pacto de Varsóvia. "Para que a Otan?", perguntavam alguns estrategistas. A suposta falta de um "inimigo", fizera, inclusive, com que a entidade atuasse fora de sua jurisdição (a Europa), como os bombardeios à Líbia de Muamar Kadafi, em 2011, no auge da Primavera Árabe.
O ímpeto de Putin em reerguer a grande Rússia deu à Otan uma razão para existir. Mais: de se refundar como organização, o que deve ocorrer a partir do encontro na capital espanhola.
Estamos testemunhando a maior reestruturação da Europa em termos de defesa desde a Guerra Fria. Nas franjas da Ucrânia, em países como Polônia, Romênia, Hungria, Eslováquia e Romênia, o efetivo militar da Otan passará dos atuais 40 mil para 300 mil. Também haverá reforço na região do Báltico (Letônia, Estônia e Lituânia), ponto sensível porque Putin posicionou mísseis hipersônicos e outros com capacidades nucleares ali. Países outrora neutros, como Finlândia e Suécia, ingressarão na Otan.
Nações com até pouco tempo atrás reduzidos orçamentos militares irão duplicar os investimentos em armamentos e efetivo - caso da Alemanha, por exemplo. E os 2% do Produto Interno Bruto dedicados à defesa, uma meta que não é cumprida pela maioria, como França, Itália e Espanha, deixará de ser teto e passará a ser piso, segundo o chefão da Otan, Jens Stoltenberg.
No plano retórico, não menos importante, a Rússia deve passar, nos documentos da entidade, de "parceira estratégica" para "ameaça direta". A aliança também deve reforçar o envio de armamento pesado para a Ucrânia e pretende modernizar o arsenal do país.
O movimento da Otan se junta ao da União Europeia, que, na semana passada, aceitou a Ucrânia como candidata ao bloco, junto com a Moldávia. Aquele papo de que a Otan não iria se envolver no conflito é balela. O Ocidente está mais dentro da guerra do que nunca, e a Ucrânia é seu cavalo de batalha. Ainda que seja provável uma guerra longa, o desgaste russo e o reforço do suporte da Otan ao país de Volodimir Zelensky indicam que entraremos em uma nova e decisiva fase do conflito.