A única certeza que se tem em relação à eleição presidencial deste domingo (19) na Colômbia, o mais importante pleito do ano na América Latina depois do Brasil, é que o candidato vitorioso terá uma margem pequena em relação ao perdedor. Fala-se em não mais de 300 mil votos entre o primeiro e o segundo colocado. Isso não indica não apenas que o mundo em geral e os colombianos em particular podem demorar para saber quem será o futuro comandante da nação como também que o eleito terá de conviver, por boa parte do mandato, com questionamentos sobre sua legitimidade.
No primeiro turno, em 29 maio, o candidato da esquerda Gustavo Petro conquistou 40% dos votos. O segundo colocado, Rodolfo Hernández, da direita, ficou com 28%. Mas tudo indica que Petro atingiu sua capacidade máxima de votação, o teto, enquanto seu oponente tinha um caminhão de votos em potencial para arrecadar. Ainda no primeiro turno, Hernández surfou em uma onda favorável que fez com que ele saltasse de 8,2% da preferência, em março, para 20,3%, em maio. Em um país governado historicamente pela elite conservadora, o medo da esquerda e principalmente a promessa de reforma agrária também fez com que o centro se agarrasse a Hernández.
Com uma campanha baseada em redes sociais, apresentando-se como antissistema, defensor do capitalismo e da austeridade, o milionário de 77 anos tirou a direita tradicional da corrida, atacando-a duramente, mas se uniu a ela para impedir a chegada da esquerda ao poder. Sua fórmula é conhecida: um programa anticorrupção como solução para todos os males. Sua estratégia também não difere muito do que temos visto nos últimos anos mundo afora: uma personalidade errática e impetuosa próxima das pessoas comuns.
Hernández tornou-se a pedra no sapato de Petro, que passou de favorito em todas as pesquisas a empatado nas intenções de voto com o milionário - ao menos, até sete dias atrás. Como pulsa a preferência do eleitorado é difícil medir porque, na Colômbia, as pesquisas são proibidas na última semana, fazendo o país mergulhar em um vazio informacional.
O fato é que ganhe quem ganhar essa é uma eleição histórica. O último pleito presidencial, em 2018, foi marcado pelos ecos e medos do acordo de paz entre o governo e a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A atual é calcada em temas como o mundo pós-pandemia, inflação, desemprego, salário e previdência. Se Petro vencer - ele próprio um ex-integrante de um grupo guerrilheiro, o M-19, será o primeiro presidente de esquerda do país, governado historicamente pela direita e com forte influência dos Estados Unidos. Se Hernández ganhar, pela primeira vez o país será governado pela direita radical.
Por conter elementos como polarização, risco de violência, fator redes sociais, ataques baixos, rumores de espionagem e possível margem estreita entre o ganhador e o derrotado, a eleição colombiana serve de termômetro para o Brasil, que vai às urnas em outubro. O pleito vizinho ainda marca a derrota do uribismo, corrente política fundada pelo ex-presidente Álvaro Uribe e seguida pelo atual, Iván Duque. Ambos estão presentes, de uma forma ou de outra, na agenda de Hernández, mas já não têm a mesma força de outrora.
Quem são
Gustavo Petro
O candidato da esquerda, de 62 anos, foi integrante do M-19, grupo guerrilheiro que atuou na Colômbia entre os anos 1970 e 1990. Foi preso e torturado pelas forças do governo. Uma vez integrado à política tradicional, após exílio, Petro foi senador duas vezes e prefeito de Bogotá. Se vencer, será o primeiro representante da esquerda no poder no país comandado historicamente pela elite conservadora. Se eleito, ele promete reforma agrária, redução da taxa de desemprego por meio da criação de vagas no Estado e redução da dependência da economia em relação ao petróleo.
Rodolfo Hernández
O candidato da direita é um rico empresário do setor da construção civil. Aos 77 anos, é conhecido como "Trump tropical", por sua identificação ideológica com o ex-presidente dos EUA. O político, que já foi prefeito de Bucamaranga, surpreendeu no primeiro turno, ao superar os candidatos de centro. Sua campanha teve como base a rejeição à política tradicional, com forte discurso anticorrupção e presença em redes sociais. Entre outras polêmicas, já se disse admirador de Adolf Hitler, ato pelo qual pediu desculpas posteriormente. Seu programa de governo é vago e mistura elementos de direita e de esquerda. Apesar de ser contrário ao casamento de pessoas do mesmo sexo, diz ser a favor da legalização das drogas.