Cai a noite aqui no Leste Europeu, e, no breu, a gente sabe, é quando a guerra revela sua face mais tenebrosa na Ucrânia. Escrevo de Zahony, fronteira da Hungria com o território ucraniano. A situação de segurança dentro da Ucrânia se deteriorou muito rapidamente, confirmando o jogo ambíguo do governo de Vladimir Putin. Menos de 12 horas após os delegados dos dois países acertarem, em Belarus, um segundo encontro, marcado para esta quarta-feira (2), Putin fazia avançar suas tropas para sitiar a capital, Kiev.
Em diplomacia, quando negociadores sentam à mesa, o primeiro objetivo de uma conversa difícil é garantir que uma próxima aconteça. Do zero, isso já é uma vitória, significa que o diálogo continua. Ao cair da segunda-feira (28), o acertado era que os representantes dos dois países voltariam a suas capitais para analisar as propostas. Antes de voltarem para a próxima rodada. Mas Putin rompe com essa lógica, ao supostamente negociar e, ao mesmo tempo, manter o fio da faca encostado no pescoço do oponente. Antes mesmo que os negociadores do presidente Volodimir Zelensky retornassem a Kiev, uma coluna de blindados, com extensão de 64 quilômetros de extensão, perfilava-se a caminho da capital ucraniana e um míssil atingia a sede administrativa da segunda maior cidade do país, Karkiv.
A terça-feira (1º) começou aqui no Leste Europeu com a clara percepção de que o encontro de Belarus foi mero teatro. O destino de Kiev parece selado. De dentro da Ucrânia, as informações dão conta de uma evacuação da capital rumo ao Oeste, a única região ainda relativamente segura. A Ucrânia é atacada pelo Norte (Kiev), o Noroeste (Karkiv), o Leste Mariupol e o Sul (Zaporiya). Mas os olhos do mundo devem estar voltados nas próximas horas para Kiev. Caindo a capital, cai o governo. Nas próximas horas, a cidade se prepara para a madrugada mais terrível desde o início da guerra.