O conselheiro político da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Willard Smith, reiterou nesta quarta-feira (1º) a confiança do governo americano no sistema eleitoral brasileiro. Em entrevista nesta tarde a jornalistas no Consulado dos EUA, em Porto Alegre, o diplomata disse esperar que o Brasil, que realiza eleições em 2022, não enfrente a crise pela qual o processo eleitoral americano passou em 2020 e, com posterior invasão do Capitólio, em 6 de janeiro.
- Tenho plena confiança nas instituições democráticas do Brasil de organizar, executar, fiscalizar e monitorar eleições livres, transparentes, onde a vontade do povo seja cumprida. Também nossas instituições foram fortes e resistiram à violência. Tenho muita confiança e esperança de que Brasil não vai sofrer a mesma crise que tivemos - disse.
Morando há dois anos no Brasil, Smith está em visita ao Estado. Nascido em Sacramento, Califórnia, ele ingressou no Departamento de Estado em 1992. Antes de atuar no Brasil, serviu em postos em Washington, Guiana, Jordânia, Peru, México, Iraque e, mais recentemente, na Venezuela.
Na conversa da qual a coluna participou, ao lado de jornalistas do Correio do Povo e do Jornal do Comércio, o diplomata falou, entre outros temas, sobre as relações entre os governos Joe Biden e Jair Bolsonaro, a resistência à vacinação e a implantação da tecnologia 5G no país. A seguir, uma síntese.
Relações Brasil-EUA
"As relações entre EUA e Brasil foram (durante o governo Trump) e continuam muito fortes. Nossa relação militar é extremamente forte, com colaboração e vínculos em todos os níveis. Também nossa relação política: estamos colaborando em temas como covid-19, saúde e aquecimento global. Isso fica evidente diante das visitas de alto nível que ocorreram e que ocorrerão."
Política ambiental
"(Esperamos) exatamente o que o presidente Bolsonaro disse na COP-26. Os compromissos que assumiu foram muito ousados, ambiciosos. Nossa esperança é de que o Brasil continue sendo um líder não só na América Latina, mas em todo o mundo."
Desmatamento na Amazônia
"É muito difícil controlar. A situação é muito complexa. Organizações criminosas estão dedicadas a desmatar. Mas temos plena confiança na palavra de Bolsonaro. Mas o governo federal precisa investir mais recursos para que os órgãos federais possam cumprir com suas responsabilidades de fiscalizar e proteger".
Acordo sobre Base de Alcântara
"Esse acordo é pouco entendido. É um acordo para permitir o uso de tecnologia americana nos satélites que serão lançados de lá. Mais nada. Isso abre oportunidades para todas as corporações e multinacionais de usarem Alcântara como base para lançar foguetes ao espaço. É muito mais econômico utilizar bases que estão mais próximas do Equador. Também tem muito potencial para gerar empregos, trazer tecnologia para o Brasil, e acho que vai estimular muitas parcerias."
Eleições de 2022 no Brasil
"Estou há dois anos no Brasil. Tenho contato com os líderes de todas as instituições democráticas brasileiras. E meu governo tem plena confiança nas instituições democráticas do Brasil de organizar, executar, fiscalizar e monitorar eleições livres, transparentes, nas quais a vontade do povo seja cumprida. Quanto às eleições americanas, passamos por momentos muitos estressantes. Mas também nossas instituições foram fortes e resistiram à violência. Tenho muita confiança e esperança de que o Brasil não vai sofrer a mesma crise. Espero que tudo saia bem, seja tranquilo e transparente. Reitero: temos muita confiança no sistema eleitoral do Brasil, que é comprovado com uma história distinta e longa de organizar, monitorar e fiscalizar eleições."
Ataques à democracia nos EUA
"O Brasil tem de vigiar atores malandros, que podem tentar influenciar a confiança do povo no sistema eleitoral. Isso é um perigo. Nos EUA estamos vendo isso. No Brasil também. Podem haver atores malandros internacionais, não apenas interessados em manipular os resultados do sistema eleitoral, mas em diminuir a confiança do povo no sistema (eleitoral) por meio de fake news, usando Facebook e WhatsApp. É uma luta contínua para educar o povo para distinguir fake news de notícias verdadeiras. É uma luta para controlar e influenciar as mídias sociais e a opinião pública."
China, Huawei e rede 5G no Brasil
"Nos EUA, estamos preocupados e queremos manter nossos sistemas garantidos por provedores e equipamentos de confiança, onde a tecnologia é transparente e nos quais há controles. Em nossa opinião, não aceitamos Huawei lá porque não tem esse mesmo controle. Os chineses são nossos parceiros econômicos, trabalhamos com eles contra o aquecimento global, mas, em outras áreas, os líderes e as instituições do Estado controladas pelo partido político não são de confiança. Não queremos dar a eles a chave da nossa comunicação. Nos EUA, tomamos essa decisão. E se vamos compartilhar e manter redes de comunicação com outros países, precisamos que esses também tenham um sistema garantido por meio de equipamentos e servidores de confiança. Há alternativas a Huawei. Essa é nossa posição. O governo do Brasil decidiu não usar a Huawei para suas comunicações internas. Se o governo do Brasil não aceita a Huawei como equipamento de confiança para suas comunicações, como pode ser aceitável para o resto do Brasil?"
Interlocução entre Biden e Bolsonaro
"O presidente Trump e Bolsonaro tinham uma relação muito pessoal, muito de amizade, agora voltou-se ao que, para nós é o mais normal, uma relação mais institucional. Acho que é muito saudável. É muito bom quando os presidentes são amigos, podem fazer as coisas muito rapidamente. Mas isso não é o normal. Normalmente é mais institucional, e voltamos a uma relação baseada em valores compartilhados, interesses compartilhados, mais institucional, baseada em 200 anos de história."
Brasil na OCDE
"Ainda estamos comprometidos em apoiar o Brasil a assumir e ser convidado como membro da OCDE. É um processo complexo, que os EUA não controlam. E que requer que o Brasil faça bastante mudanças. Mas tem nosso apoio."
Rejeição às vacinas nos EUA
"Não posso explicar como chegamos a esse ponto. Acredito, como cidadão, que tenha a ver com fake news. Elas querem sempre minar a confiança do povo no governo. Qualquer coisa que o governo faça, muita gente vai acreditar no oposto."