Em um documento de 53 páginas, a equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) que desenvolveu a maquete virtual da boate Kiss para ser utilizada pelo Ministério Público do Estado (MP-RS) durante o julgamento da tragédia, a partir de 1º de dezembro, responde aos questionamentos feitos pelo advogado Jader Marques sobre supostos erros da ferramenta.
Na sexta-feira (26), Marques, que representa o réu Elissandro Callegaro Spohr, um dos sócios da Kiss, entregou uma petição à Justiça, questionando o que considera irregularidades na reconstituição digital.
- Meu problema é com o conteúdo do software, porque ele contém impropriedades métricas. Ele não está de acordo com o laudo 12268/2013 (do Instituto Geral de Perícias, IGP). A maquete, portanto peca, em questões que são fundamentais, exatamente nos centímetros de definição de elementos no interior da boate, que, para nós, obviamente são muito importantes - disse Marques.
Na sequência, ele apresentou outra maquete virtual que será utilizada pela defesa do réu no julgamento. Segundo ele, esse trabalho foi produzido por uma empresa particular contratada pelo escritório.
- Essa é uma maquete que, na nossa opinião, atende diretamente a medidas propostas na planta trazida pelo IGP.
No documento assinado pela antropóloga Virginia Vecchioli e pelos arquitetos Lucas Kolton e Laura Lucca, a que GZH teve acesso, os pesquisadores contestam, com documentos, fotografias e dados técnicos, os nove pontos questionados pela defesa.
"Para compreender a improcedência dos questionamentos realizados pela defesa é muito importante compreender as características diferenciadas das maquetes produzidas. Enquanto a maquete em 3D apresentada pelo advogado é apresentada em formato de vídeo, o trabalho da equipe da UFSM apresenta uma reconstrução interativa. Enquanto o vídeo apresentado pela defesa mostra as melhorias ao longo do tempo desde a abertura da boate, o único interesse da equipe da UFSM é mostrar a cena do crime, quer dizer, como era a boate Kiss no momento em que aconteceu a tragédia e não reconstruir o itinerário da boate desde a sua inauguração", dizem os autores do projeto.
O ponto de divergência tem como base o laudo 12268/2013 do IGP, feito após o incêndio, e utilizado para construir a ferramenta que servirá para os argumentos da defesa. O trabalho da UFSM, dizem os autores, foi feito com base na recriação em 3D elaborada pelo Instituto de Criminalística do Distrito Federal (DF) corroborada pelo laudo do IGP, pela íntegra do processo e por fotografias.
Na petição, o advogado questiona nove pontos como supostos erros da maquete eletrônica em relação ao laudo do IGP. São eles: ausência de saída de dutos na fachada da boate, porta de acesso ao prédio, porta sanfonada, barras móveis de isolamento do fumódromo, folha esquerda da porta antipânico, altura de degraus dos caixas, ângulo de abertura da porta de saída dos caixas, ausência de cancela articulada e sugestão de ausência de extintor na parede lateral do salão principal.
O relatório da UFSM responde os nove pontos. Ao concluir o documento, a equipe defende o uso da ferramenta durante as audiências, uma vez que, segundo os professores, "ela permite tirar as medidas exatas das aberturas das portas, dos desníveis, da altura do palco ao teto e qualquer outra cujo esclarecimento seja considerado oportuno". "Os recursos tecnológicos disponibilizados fazem possível o ingresso da cena do crime no debate", dizem. E concluem: "a reprodução interativa digital (...) concorda com os dados apresentados tanto pela perícia do IC quanto pelos dados trazidos pelo IGP". No documento, os pesquisadores também apontam o que chamam de "erros grosseiros contidos no vídeo apresentado pela defesa".
A petição será analisada pelo juiz Orlando Faccini Neto, do 2º Juizado da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre.