Desde a 0h desta terça-feira (29), Barbados, uma ilha do Caribe, se tornou a mais nova República do mundo. A coluna separou cinco curiosidades sobre o país, que, embora independente desde 1966, permanecia tendo a rainha Elizabeth II como chefe de Estado.
1 Transição sem golpe ou sangue
A mudança de forma de governo em Barbados se deu sem violência, embora a história do país seja marcada pela crueldade da escravidão colonial (veja mais abaixo). O rompimento com a monarquia britânica contou, inclusive, com um representante da rainha Elizabeth II, o príncipe Charles. A própria ex-representante da monarca, a governadora-geral Sandra Mason, uma ex-jurista de 73 anos, foi empossada como presidente (ela havia sido eleita em outubro , de forma indireta, pelo parlamento).
O debate sobre a transição é antigo - o país se tornou independente do Reino Unido em 1966, mas continuou tendo Elizabeth II como chefe de Estado. O país era uma monarquia parlamentarista, com primeiro-ministro eleito pela população. Embora agora uma República, a pequena nação-ilha deseja manter as relações comerciais próximas com a antiga colônia - continuará, por exemplo, integrante da Commonwealth, organização de 54 membros, em sua maioria antigos territórios britânicos. Será uma república parlamentarista. A chefe de governo será Mia Mottley.
2 Passado de escravidão
A história de Barbados está conectada com a longa marcha da escravidão empreendida pelo Império britânico. Os ancestrais dos atuais barbadianos eram retirados de suas casas na África Ocidental e forçados a trabalhar em plantações de açúcar em condições exaustivas, em um trafico transatlântico em que eram comuns assassinatos, torturas e estupro. O período de atrocidades era visto pela elite britânica como modelo quase perfeito para o comércio, que durou quase 300 anos - que continuou ainda depois da abolição do comércio transatlântico de escravos, em 1807, e da abolição formal da escravidão pelas assembleias coloniais do Caribe em 1838. O comércio de escravos foi endossado pela família real britânica. Por isso, a presença do príncipe Charles foi motivo de protestos na ilha por parte da população.
- Desde o dia mais sombrios do nosso passado, e a atrocidade aterradora da escravidão, que mancha para sempre nossa história, o povo desta ilha forjou seu caminho com extraordinária fortaleza. Emancipação, autogoverno e independência forma seus pontos de referência. Liberdade, justiça e autodeterminação têm sido seus guias - disse ele.
Para muitos, faltou um pedido de desculpas formal já que a família real também se beneficiou financeiramente da escravidão.
3 História colonial
A ilha apareceu nos mapas espanhóis pela primeira vez em 1511, na época das Grandes Navegações. Anos depois, a Coroa portuguesa também passou a fazer viagens à ilha. Os ingleses ocuparam Barbados (cujo nome tem origem em Los barbados, os barbudos), em 1624, que a declararam território da monarquia, exercida à época pelo rei James I. Passou a ser colonizada em 1627. Foi uma colônia britânica até 1966, quando se tornou independente, permanecendo, no entanto, tendo como chefe de Estado a rainha Elizabeth II. É a primeira vez em 30 anos que um reino optou por remover a monarca britânica como chefe de Estado - a última vez foram as Ilhas Maurício, na África Oriental, em 1992. Antes, em 1970, a Guiana - antiga Guiana Britânica, que faz fronteira com o Brasil - também adotou esse caminho. Na mesma década, Trinidad Tobago (1976) e Dominica (1978) também se tornaram República.
4 Celebridade e heroína nacional
A personalidade mais famosa de Barbados é a cantora Rihanna. Ela participou da cerimônia que marcou o nascimento da nova República, na Praça dos Heróis Nacionais, em Bridgetown, a capital. Rihanna foi condecorada como heroína nacional.
- Que você continue a brilhar como um diamante a honrar sua nação com suas obras, com suas ações - disse a primeira-ministra Mia Amor Mottley, em referência à música Diamonds, da cantora.
5 Outros territórios
A rainha Elizabeth II continua sendo a chefe de Estado em 15 países - antigas colônias, como Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Jamaica, Bahamas, Belize, entre outros. O processo de Barbados, embora pacífico a um primeiro olhar, é observado como laboratório por movimentos republicanos nesses territórios. O Movimento da República Australiana, por exemplo, parabenizou a ilha por marcar "esse importante passo em direção à independência total".