Agora, talvez, fique mais fácil compreender por que um país onde a covid-19 corre solta transforma-se em laboratório vivo do coronavírus, tornando-se uma ameaça ao planeta. Foi assim com o Brasil meses atrás, onde surgiu a cepa Gama, inicialmente conhecida como P.1. Mesmo ameaçadora, a variante brasileira não chega aos pés do perigo representado pela Delta, originária do caos indiano e mais transmissível.
A Delta joga um banho de água fria nas esperanças de um retorno a algum nível de normalidade no mundo – ou pelo menos na parte do mundo onde a vacinação está avançando. Com alta taxa de transmissão, a cepa tem desviado do esquema protetor das vacinas e obrigado governos que já haviam dado a covid-19 como passado a voltar a conviver com o vírus. Mais: países estão revendo todas as estratégias de combate.
Nações que haviam conseguido expurgar o Sars-CoV-2, como Austrália e Nova Zelândia, voltaram a acender o alerta. No primeiro, houve surtos em Sydney, onde o coronavírus aproveita-se da baixa taxa de vacinação da população. Nova Zelândia está revendo sua tática de covid zero para uma convivência com o vírus. E Cingapura, que pretendia reabrir a economia nos próximos dias, recuou. Taiwan, que por meses em 2020 não registrou um caso sequer, voltou a ter doentes.
Os Estados Unidos, que imaginaram-se uma ilha e eliminaram a máscara enquanto a Delta surgia na Índia, voltaram a utilizar o equipamento de proteção em locais com alta taxa de contágio. O governo Joe Biden também adotou uma ordem pouco usual para o tradicional liberalismo americano, tornando imunização obrigatória para funcionários públicos federais.
Tailândia, Emirados Árabes Unidos, Israel, Hungria e Uruguai são as nações que começaram a aplicar terceiras doses de vacina, como reforço. Vale para a CoronaVac, mas também para a incensada Pfizer.
Um documento do Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que vazou para The New York Times e The Washington Post, completa o pessimismo: a variante Delta é muito mais contagiosa do que o vírus causador de Mers, Sars, Ebola, ou de resfriado comum, gripe sazonal e varíola, e é tão transmissível quanto a catapora. A medida mais imediata a ser tomada pela agência é “reconhecer que a guerra mudou”, diz o texto.
A boa notícia é que, apesar de a variante Delta atingir mesmo quem já se vacinou com as duas doses, pouquíssimos dos doentes evoluem para formas graves. Ou seja, as vacinas que estão aí não evitam que se adquira o vírus, mas reduzem drasticamente as chances de morte.
E, como desde o início da pandemia, o que observamos mundo afora é uma espécie de futuro do que experimentaremos no Brasil, há alertas para cidadãos e governos:
1) Se você ainda não se vacinou, vacine-se!
2) Autoridades, acelerem a vacinação!
3) Pesquisadores, acelerem os estudos sobre doses de reforço.
4) Todos, continuem usando máscaras, mesmo que já tenham se vacinado. Vacina não impede transmissão do vírus, mas evita, em caso de infecção, que você piore ou morra.