Eu gostaria de estar errado. Mas há pouco espaço para esperança de que o cessar-fogo entre Israel e Hamas, anunciado nesta quinta-feira (20), irá dar origem a uma paz duradoura no Oriente Médio.
Esta foi a quarta guerra entre os dois lados, desde que o grupo extremista islâmico passou a controlar a Faixa de Gaza, em 2007. E os 11 dias de combates mostraram que os dois lados estão mais fortes, bem equipados e dispostos a eliminar o inimigo.
O cessar-fogo só saiu depois que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, endureceu o tom com Israel. Foram quatro telefonemas em que o diálogo foi se tornando mais duro. A pressão americana veio depois que, internamente, Biden era alvo de críticas da ala progressista do Partido Democrata por ter sido muito leve nas abordagens iniciais.
Enquanto União Europeia e China disputavam protagonismo na crise - a China, diga-se de passagem, pleiteando se tornar uma mediadora futura das crises entre israelenses e palestinos -, coube ao Egito atuar como fiel da balança.
Quem perdeu é fácil dizer: as mais de 240 pessoas que morreram nesses 11 dias, muitas delas crianças. Quem ganhou? O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que praticamente anulou a possibilidade de a oposição formar um governo - ou seja, ele deve seguir no poder e, assim, adiar por mais algum tempo uma eventual prisão por corrupção no caso em que é réu. Apesar de sua capacidade militar ter sido atingida, o Hamas também sai maior em sua luta fratricida por poder interno em relação à Fatah.
Do lado israelense, há o alerta de que, se qualquer novo foguete do Hamas cair em seu território, haverá reação. Do lado palestino, o Hamas teve boa parte de suas capacidades militares atingidas. Mas a chuva de foguetes que fez cair sobre Israel mostrou que seu poder de fogo foi rapidamente ampliado desde o conflito anterior, em 2014.
O estopim da crise, que deveu-se em parte a um encontro de datas - o Dia de Jerusalém, por parte dos judeus e o Ramadã, por parte dos muçulmanos -, tem uma ponta inacabada: a divergência entre famílias palestinas ameaçadas de despejo do bairro Sheikh Jarrah, na Cidade Velha, e judeus que reivindicam propriedade sobre terrenos de antes da fundação de Israel, em 1948. A Suprema Corte israelense adiou a discussão - e, quando ela voltar, terá potencial novamente explosivo.
A disputa toca no ponto mais complexo e nevrálgico das divergências entre israelenses e palestinos: a questão de Jerusalém, sagrada para judeus e muçulmanos (além dos cristãos). Ou seja, a questão dos refugiados palestinos é importante, a territorialidade de um eventual futuro Estado Palestino picotado por assentamentos israelenses também, mas nada mexe tanto com os brios dos dois lados do que Jerusalém. Por isso, as bombas até podem deixar de cair por um tempo sobre Gaza e Israel, mas, como ocorreu depois de 2008, 2012 e 2014, infelizmente, há poucas razões para se pensar que a trégua durará por muito tempo.