Imagine você em um avião, durante um voo que deveria durar poucas horas. Lá pelas tantas, você olha pela janela e vê um caça MIG-29 paralelo a sua aeronave. Logo, o Boeing 737-800 em que você está é obrigado a fazer um pouso de emergência por uma suposta ameaça de bomba a bordo.
Só então, você descobre que a suspeita era falsa. E tudo não passou de uma encenação - menos o caça, é claro - para prender um dos passageiros.
Foi o que ocorreu com o avião da Ryanair, que ia da Grécia para a Lituânia no domingo (23). A aeronave foi interceptada por um caça de Belarus e forçada a pousar em Minsk, por ordem do ditador do país, Alexandr Lukachenko. A intenção foi prender Roman Protasevich, 26 anos, um jornalista crítico de seu regime e editor de um site informativo chamado Belamova.
O voo FR4978 foi obrigado a desviar o curso, quando a tripulação foi informada pelo controle aéreo de que havia uma ameaça de bomba a bordo. Havia 170 passageiros a bordo.
O jornalista foi colocado em uma lista de pessoas consideradas terroristas pela Rússia. A ação mostra o quanto o ditador bielorusso está disposto a fazer para cair agradar ao presidente russo, Vladimir Putin, que o manteve no poder quando irromperam os protestos no ano passado após suspeitas de fraude na eleição.
Além da prisão em si ser um ato de violação à liberdade de expressão e de imprensa, considerado pelo Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) mais um ato de estrangulamento da imprensa por parte do governo de Lukachenko, o incidente no espaço aéreo de Belarus coloca em risco a segurança do tráfego aéreo internacional. E abre precedente perigoso de outros Estados lançarem mão de seu poder militar para interceptar aeronaves civis que voem sobre seus territórios a fim de prender adversários políticos.