Um caça de Belarus interceptou neste domingo (23) um avião comercial da Ryanair a bordo do qual viajava um ativista opositor. Segundo a empresa, ele foi preso após o pouso imprevisto em Minsk, o que irritou a União Europeia.
O Nexta, canal opositor no aplicativo Telegram, afirmou que os serviços de segurança prenderam seu ex-redator-chefe Roman Protasevich após o pouso de emergência no aeroporto. O Boeing 737 fazia o trajeto entre Atenas a Vilnius.
No começo da noite, o aparelho pôde prosseguir viagem rumo à capital da Lituânia, país que faz parte da União Europeia (UE), onde aterrissou pouco depois. Não foi informado se Protasevich estava a bordo.
Líderes da UE pediram que Minsk permitisse que os passageiros pudessem continuar sua viagem após a ação, que consideraram "totalmente inaceitável". Vários países do bloco, como Alemanha, França e Lituânia, denunciaram o ocorrido, que o premier da Polônia, Mateusz Morawiecki, chamou de "terrorismo de Estado" e para o qual pediu "sanções imediatas".
Os líderes da UE irão discutir o incidente e possíveis sanções durante uma reunião de cúpula marcada para esta segunda-feira (24), informou um porta-voz do Conselho Europeu. A França convocou o embaixador de Belarus em Paris, e o Reino Unido disse ao presidente bielorusso, Alexander Lukashenko, que ele se expõe a "consequências graves".
A Otan pediu uma investigação internacional sobre o incidente, que considerou "grave e perigoso", segundo seu secretário-geral, Jens Stoltenberg.
O Ministério do Interior de Belarus confirmou no Telegram a prisão de Protasevich, mas apagou a mensagem, segundo uma jornalista da AFP. De acordo com autoridades, o avião foi desviado de sua trajetória por uma ameaça de bomba, após uma ordem do presidente de Belarus.
Segundo o Nexta, o pouso de emergência ocorreu devido a uma "briga" originada por agentes dos serviços de segurança de Belarus a bordo, os quais afirmaram que havia um explosivo no avião. O aeroporto de Minsk, citado pela agência de notícias oficial Belta, informou que a ameaça foi descartada após uma vistoria no Boeing.
Briga com serviço de segurança
Lukashenko enfrentou em 2020 um movimento histórico de protestos, que reuniu por várias semanas dezenas de milhares de pessoas em Minsk e outras cidades do país, de 9,5 milhões de habitantes. Mas a mobilização perdeu fôlego ante as prisões em massa, a violência policial, a perseguição da Justiça e as penas de prisão aplicadas a ativistas e jornalistas.
Em novembro, o serviço de segurança de Belarus (KGB), herdeiro do período soviético, incluiu Protasevich, 26 anos, e o fundador do Nexta, Stepan Putilo, em uma lista de "indivíduos envolvidos em atividades terroristas".
O atual redator-chefe do canal, Tadeusz Giczan, afirmou que agentes do KGB estavam a bordo do avião. "Quando ele entrou no espaço aéreo de Belarus, os agentes começaram uma briga com os funcionários da Ryanair", afirmando que havia uma bomba a bordo, detalhou.
Uma porta-voz dos aeroportos da Lituânia informou à AFP que recebeu como primeira explicação do aeroporto de Minsk um conflito entre passageiros e a tripulantes. Segundo imagens do site especializado flightradar24, o Boeing foi interceptado antes da fronteira com a Lituânia, que faz parte da UE.
Pena de morte
Fundado em 2015, o Nexta teve um papel significativo na recente onda de protestos contra a reeleição em 2020 de Lukashenko, no poder desde 1994, divulgando palavras de ordem e compartilhando fotos e vídeos das manifestações e da repressão.
A opositora bielorussa Svetlana Tijanovskaya condenou de seu exílio na Lituânia a prisão de Protasevich, e afirmou que o ativista enfrenta a ameaça de pena de morte.
A repressão das autoridades de Belarus valeram a Minsk uma bateria de sanções ocidentais, que levaram Lukashenko a se aproximar de seu par russo, Vladimir Putin.
* AFP