Os países da União Europeia (UE) decidiram nesta segunda-feira (24) fechar o espaço aéreo do bloco a aeronaves de Belarus e adotar novas sanções contra o regime de Alexander Lukashenko, acusado de forçar o pouso de um avião em Minsk no qual viajava um opositor que foi posteriormente detido.
Os chefes de governo dos 27 países da União Europeia exigiram a libertação "imediata" do opositor detido, Roman Protasevich, e recomendaram às companhias aéreas europeias que evitem o espaço aéreo bielorrusso, aumentando ainda mais o isolamento do país.
Estas medidas foram anunciadas somente duas horas após o início do primeiro dos dois dias da cúpula dos líderes da UE, que viajaram a Bruxelas. As consultas prévias ao encontro presencial realizadas entre as capitais semearam o caminho.
Londres e Kiev já colocaram na lista negra o espaço aéreo desta ex-república soviética. As companhias aéreas Lufthansa, SAS e AirBaltic anunciaram sua decisão de evitar sobrevoar o território bielorrusso.
Cerca de 2.000 aeronaves comerciais cruzam o espaço aéreo bielorrusso todas as semanas, disse a organização Eurocontrol. A empresa bielorrussa Belavia realiza cerca de vinte voos diários de e para aeroportos da UE.
- Roleta russa -
Roman Protasevich, um jornalista de oposição de 26 anos, e sua namorada, Sofia Sapega, viajavam a bordo de um Boeing da Ryanair que viajava entre Atenas e Vilnius, capital da Lituânia, e que foi desviado para Minsk após um alerta de bomba que se revelou falso. Os jovens foram detidos no aeroporto.
Protasevich é ex-editor-chefe do influente veículo da oposição Nexta e, de acordo com a líder da oposição bielorrussa exilada na Lituânia, Svetlana Tijanovskaya, corre risco de ser condenado "à pena de morte", ainda em vigor na Bielorrússia.
Os Estados Unidos e a ONU também exigiram a libertação imediata do jovem opositor. O presidente americano, Joe Biden, chamou o caso de "escandaloso".
A reação europeia "está à altura da gravidade" dos acontecimentos "absolutamente inaceitáveis, chocantes e escandalosos", afirmou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. "Não vamos tolerar uma tentativa de jogar roleta russa com a vida de civis inocentes", alertou.
Os líderes europeus também pediram a rápida adoção de um novo pacote de sanções contra as autoridades do regime bielorrusso e a análise de medidas econômicas adicionais.
A UE já colocou na lista negra 88 membros do regime, incluindo o presidente Lukashenko e sete instituições.
- Pirataria estatal -
Esta antiga república soviética, localizada entre a Rússia e a União Europeia e comandada desde 1994 por Lukashenko, rejeitou as críticas e garantiu ter agido legalmente, prometendo uma "absoluta transparência".
Belarus também alegou, nesta segunda, ter recebido uma ameaça de "bomba" neste voo da Ryanair, assinada pelo Hamas, conforme e-mail atribuído ao movimento islamista palestino lido por uma autoridade do Ministério bielorrusso dos Transportes.
Minsk garantiu nesta segunda ter informado a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), órgão do sistema ONU, e a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês), de sua "disposição em cooperar com uma investigação imparcial".
Nesta segunda-feira a televisão estatal bielorrussa transmitiu um curto vídeo no qual Protasevich "confessa" que organizava manifestações de protesto contra o governo.
No vídeo, o jovem opositor parecia exibir marcar no rosto, e afirmou que estava sendo tratado "de acordo com a lei".
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, classificou o incidente de "ultrajante e ilegal", enquanto a Polônia denunciou "um ato de terrorismo de Estado" e a França pediu "uma resposta forte e unida" do bloco europeu.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou que as explicações bielorrussas são "completamente inverossímeis".
A Irlanda, onde fica sediada a companhia aérea Ryanair, criticou um ato de "pirataria" estatal.
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) exigiu uma investigação sobre o "grave e perigoso incidente", enquanto o secretário de Estado americano, Antony Blinken, considerou a ação "impactante" por colocar em perigo "as vidas de 120 passageiros, incluindo cidadãos americanos".
A UE e outros países ocidentais já adotaram várias sanções contra o governo de Lukashenko pela repressão brutal das manifestações da oposição, após sua polêmica reeleição para o sexto mandato em agosto do ano passado.
* AFP