O jornalista bielorrusso Roman Protasévich, detido depois que o avião da Ryanair em que viajava foi obrigado a pousar em Minsk no domingo (23), iniciou seu ativismo na Internet, quando era adolescente.
Em 2012, aos 17 anos, ainda no Ensino Médio, foi detido por coordenar dois grupos na rede social russa Vkontakte contra o presidente Alexander Lukashenko.
Um deles era chamado "Estamos cansados deste Lukashenko", que governa Belarus com mão de ferro desde 1994, um ano antes do nascimento de Protasevich.
"Me agrediram nos rins e no fígado", contou na ocasião. "Urinei sangue por três dias. Ameaçaram me acusar de assassinatos não solucionados", disse.
Durante o interrogatório, oficiais da Agência de Segurança de Belarus, que ainda usa a sigla KGB da época soviética, exigiram as senhas de seus grupos virtuais.
Em seguida, ele trabalhou como fotógrafo para meios de comunicação de Belarus e, em 2017-2018, recebeu uma bolsa Vaclav Havel para aspirantes a atuar como jornalista independente.
Protasevich abandonou Belarus em 2019, depois de começar a trabalhar para o influente canal opositor do aplicativo Telegram Nexta ("Alguém", em bielorrusso).
Mais tarde, tornou-se chefe de redação do canal, que hoje conta com mais de 1,2 milhão de assinantes.
O canal teve um papel importante na organização dos protestos contra Lukashenko, ao informar detalhes, horários e datas das manifestações.
- "Atividades terroristas" -
O ativista, que vive entre a Polônia e a Lituânia, dois centros de exilados bielorrussos, é atualmente o editor do canal BGM, que tem 260.000 assinantes.
Sua companheira, Sofia Sapega, detida no domingo ao lado dele, é estudante de Direito na Universidade Europeia de Humanidades (EHU) de Vilnius.
Roman Protasevich cobriu a campanha das eleições presidenciais de 2020, na qual a representante da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, enfrentou Lukashenko.
Após a vitória deste último, protestos sem precedentes explodiram no país, e as autoridades responderam com violência.
Belarus emitiu em novembro uma ordem de detenção contra Protasevich por seu trabalho no Nexta, alegando que ele estava "envolvido em atividades terroristas".
Em seu perfil no Twitter, o opositor se definiu na ocasião, com ironia, como o "primeiro jornalista terrorista da história".
Em caso de condenação, a acusação de "atividades terroristas" pode resultar na pena de morte em Belarus.
Quando o avião da Ryanair foi sequestrado e obrigado a pousar em Minsk, os passageiros escutaram Protasevich afirmar que "enfrentava o risco de pena de morte".
Seu último tuíte, de 16 de maio, foi uma referência à cobertura fotográfica da visita de Tikhanovskaya a Atenas, cidade de onde partiu o voo da Ryanair com destino a Vilnius.
* AFP