Até as paredes do Capitólio sabem que será muito difícil Donald Trump ser condenado no Senado e perder os direitos políticos, o que o impediria de concorrer à eleição de 2024. Os democratas precisariam que 17 senadores republicanos traíssem o ex-presidente e votassem a favor do impeachment.
Isso será muito difícil de ocorrer, como já expliquei aqui, uma vez que Trump tem uma base eleitoral forte, da qual muitos congressistas também dependem para a eleição de meio de mandato, em 2022. Então, embora alguns tenham se emocionado (ou se revoltado) com as imagens apresentadas na quarta-feira (10) pelos democratas, em que se reviveu todo o drama e vergonha nacionais do dia da invasão do Congresso, provavelmente não se chegará ao número suficiente para condenar Trump.
Nos três dias em que os democratas apresentaram seus argumentos que exploram a suposta responsabilidade do então presidente no episódio, ficou muito clara a tática: primeiro, apelar para a emoção, com o uso dos vídeos até então inéditos que mostraram o quanto os vândalos que atacaram o Capitólio estiveram muito perto das autoridades, inclusive do vice-presidente do país, Mike Pence. A ideia foi mostrar que o Estado foi atacado. Segundo, sabedores de que dificilmente Trump será condenado, eles tentaram ao longo das últimas 72 horas desgastar a imagem do ex-presidente e deixar uma lição simbólica de que o que houve naquele 6 de janeiro não passou em branco. Processos de impeachment, como se sabe, são julgamentos políticos.
E com relação aos republicanos, que a partir desta sexta-feira, começam a apresentar sua defesa? Qual será a tática?
Os defensores se apegam ao argumento de que o impeachment é inconstitucional, porque Trump não está mais no cargo, logo não pode ser julgado em um processo cuja finalidade, a priori, seria impedir o presidente de seguir com o mandato.
Eles alegam também que falta materialidade, a prova cabal, um elo entre as declarações de Trump e a invasão do Capitólio. De fato, por mais incendiárias que tenham sido as falas e os posts do então presidente em redes sociais, negando o resultado da eleição, mentindo sobre fraudes e conclamando seguidores a marchar até o Capitólio, não há uma só palavra explícita sobre invasão. O argumento dos democratas de que a narrativa foi sendo criada por Trump para alimentar o clima de ódio e polarização entre os seus seguidores, que culminaria na ocupação do Legislativo, embora verdadeiro, não é suficiente para comprovar que Trump ordenou os atos.
Os advogados dirão ainda que os democratas apelam para o sensacionalismo, ao rememorar as cenas do 6 de janeiro, e defenderão o direito de Trump à livre expressão.
A votação do impeachment será na semana que vem.