Sejamos sinceros: o Ocidente só se deu conta do tamanho da destruição que se abatia sobre 2020 quando o coronavírus chegou ao norte da Itália. Antes, era assunto de pé de página em jornais, ainda que, no Oriente, a covid-19 já tirasse o sono de epidemiologistas, preocupados com o vírus desconhecido, e matasse e infectasse aos borbotões. Mas foi só quando a rica Milão sucumbiu, que o resto do planeta se assombrou.
A União Europeia (UE), que começou a vacinar sua população, chora 546 mil óbitos e 25 milhões de infectados por coronavírus. Por ser a porta de entrada da praga no Ocidente, é emblemática a data de 27 de dezembro, início da vacinação na maior parte do continente. Há vitórias isoladas: o Reino Unido do premier Boris Johnson, que foi da UTI à mudança de postura em relação ao coronavírus, foi o primeiro país a iniciar a imunização de sua população. Em segundo lugar, os Estados Unidos de Donald Trump, que negou a gravidade da pandemia, também foi infectado e, no ocaso de seu governo, viu um laboratório de seu país, a Pfizer, em parceria com BioNTech, fazer nascer o até agora mais confiável antídoto contra a covid-19.
Há ainda nações esparsas, como Rússia, Israel, Canadá, Suíça, Arábia Saudita e, na América Latina, México, Chile e Costa Rica, que também começaram suas campanhas.
O começo da imunização de um bloco inteiro, entretanto, significa o virar de página de um capítulo sombrio da história da humanidade.
É, em parte, o que admitiu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em uma rede social no domingo (27), ao acrescentar que a vacina contra a covid-19 foi entregue aos 27 membros da União Europeia (UE).
Isso significa dizer que as nações mais atingidas do continente, como Itália e seus 71 mil mortos e Espanha, que viu seus idosos entre grande parte de suas 49,8 mil vítimas fatais, começarão a dar a volta por cima. Portugal, que se tornou exemplo de estratégia contra o vírus, ou República Tcheca, que liderou a campanha global pelo uso de máscaras, também renascem.
A França, berço do iluminismo, também saúda a vitória da ciência.
Há dois pesares: primeiro, a boa nova chega no momento em que o continente vê se alastrar a nova cepa, com Suécia, Espanha, Itália, França, Alemanha, Dinamarca, Portugal e Noruega registrando casos – além de Canadá, Líbano e Japão. A segunda: a vacina vem quando pesquisas de opinião pública mostram altos níveis de hesitação em relação ao imunizante, principalmente em nações como França e Polônia.
Há desafios, mas, como humanidade, demos um passo impressionante, o mais próximo possível para atingirmos o novo (velho) normal.