Os Estados Unidos que emergem da eleição são um país fraturado política e socialmente, em crise econômica, assolado pelo coronavírus e com problemas raciais. A coluna separou os principais desafios que Joe Biden e Kamala Harris terão a partir de 20 de janeiro.
Estancar a pandemia - Os EUA são o país com maior número de mortos e infectados pela covid-19. No auge da crise, o governo Donald Trump minimizou a gravidade da doença, brigou com governadores, que adotaram medidas de restrição de mobilidade, colocou de lado até o maior especialista em infectologia do país, Anthony Fauci. Biden, no discurso de vitória, no sábado (7), já indicou que colocaria a ciência no centro das decisões. Países que conseguiram domar o vírus investiram em estratégia de contenção, testagem e rastreamento de infectados e articulação entre governo central e governadores.
Retomada da economia -A crise deflagrada pelo coronavírus, em maior ou menor grau, atinge todos os países. No segundo trimestre, a economia americana encolheu 33%, ritmo mais acentuado desde a Grande Depressão. A pandemia destruiu gastos dos consumidores e empresas e jogou milhares de pessoas no desemprego. Há sinais de recuperação lenta mas novos incentivos por parte do governo serão fundamentais. Biden tem indicado que ajudará governadores estaduais a tentar garantir que professores, bombeiros e outros trabalhadores essenciais não sejam demitidos. Também deve estender o seguro para quem está desempregado.
Polarização - Os EUA são país dividido política e socialmente. Saem desta eleição ainda mais fraturados do que em 2016 - e a recusa de Donald Trump em aceitar a derrota só aumenta essas fissuras. Na sociedade, há rachas que por vezes descambam para a tensão em temas como aborto, porte de armas, coronavírus (vacina ou não vacina, abre ou fecha a economia, medidas de restrição, uso de máscara). Todo assunto comportamental virou ideológico. A campanha também exibiu um lado belicoso que foi alimentado pelo presidente Trump e sua narrativa de suposta fraude eleitoral. Biden, desde as manifestações anteriores à vitória até o discurso de sábado (7) tem deixado claro que governará para todos, inclusive para quem não votou nele.
Segregacionismo racial - O racismo é um problema estrutural nos EUA. Episódios de violência policial contra negros - contra George Floyd e Jacob Blake, os mais emblemáticos - escancararam um chaga aberta na sociedade americana. A reforma policial foi um tema que começou a ser debatido, mas não avançou para mudanças concretas. Biden e Kamala pretendem apresentar ao Congresso um plano de reforma nas práticas das corporações policiais para instituir uma "proibição nacional aos estrangulamentos", criar um "modelo de uso de força padrão" e formar uma "comissão de supervisão policial".
Congresso dividido - Biden e Kamala enfrentarão um parlamento que deve, em boa parte se opor a suas medidas e tentar inviabilizar o governo. Na Câmara, tudo indica que os democratas manterão a maioria, mas no Senado, a agora oposição também seguirá no controle. Biden terá de trabalhar com alguns senadores republicanos para buscar apoio a seus projetos. O apoio do Congresso será fundamental para fazer aprovar grandes pacotes de estímulos para lidar com a crise econômica, por exemplo, o que pode até acentuar a polarização.
Passada a noite da celebração da vitória Biden e Kamala já começaram a trabalhar na transição. Um site chamado "Restaurando a liderança americana" foi lançado com detalhes das primeiras medidas que os democratas pretende implementar.