O Exército Brasileiro deixou de gastar R$ 794 milhões em munição, desde 2016, quando começou a empregar simulações de combate por meio de tecnologia no Centro de Adestramento Sul (CA-Sul), em Santa Maria, na região central do Estado.
Na moderna unidade, referência em ensino na América Latina, militares passam por treinamento em softwares que emulam disparos de obuses e morteiros, reduzindo riscos de acidentes em campo e diminuindo o impacto ambiental e os custos de uma operação com tiro real.
O coronel Márcio Guedes Taveira, comandante do centro, explica que, só em 2019, o Exército deixou de gastar R$ 200 milhões em munições.
– Tudo porque estamos utilizando o simulador de apoio de fogo - afirma.
Em uma sala com telas gigantes que imitam cinema em três dimensões, é possível simular o ponto de observação, local de onde, próximo às linhas inimigas, o oficial dá o comando para o disparo de um obuseiro. Por computador, são simuladas as condições do tempo, se há chuva ou vento, se é dia ou noite. Também é possível mapear terrenos reais, como o do próprio campo de instrução em Santa Maria. Tudo sem gastar um real em munição. Só um tiro iluminativo, por exemplo, custa o equivalente a R$ 7 mil - e isso é economizado com o simulador. Em situações de treinamento com tiro real, seriam disparados centenas.
O software é da empresa espanhola Tecnobit.
O nível de tecnologia para adestramento é o mesmo do modelo utilizado por tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Técnicos em informática do Exército também desenvolvem modelagens de áreas específicas, onde podem ser realizadas, posteriormente, operações reais. Para desenhar as regiões virtualmente são usadas informações da Diretoria dos Serviços Geográficos do Exército e dados abertos, como Google Earth, que permitem um grau quase perfeito de realidade. Isso significa dizer que, em tese, as ruas, avenidas e diferentes bairros de Porto Príncipe, no Haiti, onde o Brasil atuou como força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) durante 13 anos, poderiam ter sido mapeadas antes da missão real, se o Exército já tivesse essa tecnologia. Terrenos e condições na África, caso o país enviasse tropas para República Centro-Africana, por exemplo, como foi estudado anos atrás, também poderiam ser simulados.
Além de disparos de obuses, outros equipamentos com sensores ajudam a emular confrontos entre tropas e entre blindados. Após os exercícios, é possível analisar os desempenhos e verificar acertos e equivocos.
O coronel Taveira destaca que o uso dessa tecnologia pode ser ampliado para atuações de "não guerra".
- É possível simular uma zona alagadiça para treinamento de bombeiros ou outras equipes de defesa civil - diz.
A convite do Comando Militar do Sul (CMS), como parte do programa Conheça Seu Exército, a coluna visitou nos últimos dias o Centro de Adestramento Sul (CA-Sul), o 4º Batalhão Logístico (4º B Log), o Centro de Instrução de Blindados e o 29º Batalhão de Infantaria Blindado (29º BIB), pertencentes à Terceira Divisão de Exército.
Como parte da tecnologia para operação dos blindados, os militares aprendem a guiar e a disparar com carros de combate, como os recém-adquiridos Leopard ou os Guarani, com desenvolvimento brasileiro, também em simuladores. Só depois de passarem pela fase virtual é que vão a campo. O local também serve para intercâmbio de informações e recebe militares de nações aliadas para treinamentos conjuntos.