Não se engane: passados cinco anos dos atentados em Paris, lembrados nesta sexta-feira (13), o terrorismo não acabou.
O fato de não ocorrerem tantas explosões no Oriente Médio, como há uma década, não significa que ações extremistas tenham cessado. Algumas organizações radicais mudaram seu modus operandi e seus alvos. Outras tiveram suas capacidades de planejamento, organização, financiamento e ação drasticamente reduzidas. Mas não fora extintas.
Os ataques de 13 de novembro de 2015 representaram uma das últimas ações em massa organizadas pelo Estado Islâmico (EI) no Ocidente. A série de atentados começou com explosões no lado de fora do Stade de France, onde as seleções de França e Alemanha disputavam um amistoso. Na sequência, clientes no bar Le Carillon e no restaurante Le Petit Cambodge, no coração da capital francesa, foram alvejados por extremistas com fuzi AK-47. Outros estabelecimentos, com mesas nas ruas, se tornam alvo dos extremistas, que encerram sua carnificina parisiense na casa de shows Bataclan lotada. No total, 129 pessoas morreram e 352 ficaram feridas.
Enviado de ZH, desembarquei naqueles dias em uma Paris dilacerada. A alma da capital francesa, seu estilo de vida, tinham sido atingidos. É isso: terroristas não apenas querem matar, eles desejam minar o estilo de vida de uma cidade, de um país, como fizeram os sequestradores do 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Passados cinco anos dos atentados em Paris, há dois cenários:
O primeiro, no Oriente Médio, onde o grupo extremista Estado Islâmico, autor do massacre na França, foi reduzido a poucas células. Sua cabeça de comando foi cortada em ações coordenadas dos Estados Unidos e França (os ataques em Paris foram, em parte, retaliação ao que os franceses faziam na Síria), o exército iraquiano e tropas curdas, que expulsaram os radicais de cidades como Ramadi, Fallujah e Mossul, no Iraque. Muitos fugiram para a Síria, mas hoje têm pouca capacidade de articulação.
O segundo cenário, embora menos visível, é mais preocupante. E tem como palco a Europa. Líderes extremistas se alimentam da desigualdade social. Jovens que não se sentem integrados à sociedade europeia se tornam presas fáceis de radicais, que hoje não precisam de uma organização-mãe, como o EI ou a Al-Qaeda. Nem de muito dinheiro para agir. Por meio da internet e das redes sociais, têm capacidade de articulação e de cooptar soldados para ações individuais. O EI elevou a outro nível a propaganda do terror, com sofisticação para seduzir. Sem falar dos lobos-solitários, que não estão ligados a nenhum grupo, mas se identificam com suas causas e agem sozinhos.
Naqueles dias de 2015, mergulhei nas entranhas da sociedade europeia, em especial em Paris e Bruxelas (origem de muitos dos extremistas que haviam praticado o atentado na França). O problema não está resolvido.
Há menos de um mês, a França voltou a ser alvo de terrorismo: em 16 de outubro, um professor foi decapitado na rua dias após mostrar charges de Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão. Menos de 15 dias depois, três pessoas foram mortas em uma basílica de Nice, em um ataque com faca.
O terrorismo não é um problema em si. É um sintoma de um mal-estar social. A pandemia de coronavírus acelera a desigualdade, que aumenta a pobreza, a revolta com o sistema e, por tabela, torna populações reféns de discursos políticos radicais, que deturpam a religião em prol de interesses políticos.