Ora ele aparece na janela de um veículo, transportando corpos mutilados para uma vala comum no meio do deserto sírio. Em outro momento, posa com a bandeira preta do Estado Islâmico em uma das mãos e um Alcorão na outra. Com rosto ocidental, cabelos longos, negros, que se misturam à barba espessa, Abdelhamid Abaaoud, belga de 27 anos, seria a mente por trás dos atentados de sexta-feira em Paris e nos arredores do Stade de France, em Saint-Denis.
Aos poucos, a França começa a dar nome, sobrenome e cara aos terroristas que planejaram e executaram o pior atentado de sua história recente. Abaaoud é um velho conhecido dos serviços de inteligência franceses. De origem marroquina e atualmente nas fileiras do Estado Islâmico, ele teria organizado outros ataques menores nos últimos meses.
É procurado desde uma operação contra uma célula extremista no leste da Bélgica, que terminou em tiroteio no início do ano. Também teria participado, ainda que indiretamente, de um atentado frustrado contra um trem entre Amsterdã e Paris, e ainda de outro ataque, abortado, contra uma igreja de Paris, em abril. À sua ficha ainda é acrescido o envolvimento no episódio em que um atirador abriu fogo contra o Museu Judaico de Bruxelas, em maio do ano passado.
Chama a atenção a personalidade descrita pela família na capital belga. Segundo uma irmã, Abaaoud não era religioso antes de 2014 e tirava boas notas na escola, uma das melhores da cidade.
Está cada vez mais clara a conexão Bruxelas-Paris nas investigações. O outro terrorista identificado, Salah Abdeslam, 26 anos, teria alugado o carro, um Volskwagen Polo preto, utilizado pelos terroristas que invadiram a casa de shows Bataclan, onde morreram 89 pessoas. Seu irmão Ibrahim Abdeslam, 31 anos, também francês, residente em Bruxelas, detonou explosivos amarrados ao corpo em frente a um bar no Boulevard Voltaire.
Ibrahim havia alugado um carro Seat preto, registado na Bélgica, e encontrado sábado em Montreuil. No interior do veículo, havia três fuzis. A imagem de Saleh está sendo divulgada amplamente deste sábado à tarde pelos veículos de comunicação franceses. As autoridades têm alertado que, caso alguém identifique o terrorista, avise à polícia. Também há uma advertência: os cidadãos não devem tentar contato com o suspeito, uma vez que ele seria "perigoso".
Durante toda a segunda-feira, as operações se concentraram na França e na Bélgica. Pela manhã, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, informou que mais de 150 ações foram realizadas desde a noite de sábado. Há uma ordem de captura internacional contra os dois extremistas identificados.
Ainda nesta segunda-feira, uma grande operação foi montada no bairro de Molenbeeck, arredores de Bruxelas, onde, tudo indica, foi gestado o massacre de Paris. No final da manhã, emissoras de TV belgas chegaram a anunciar que Saleh havia sido preso, mas logo as informações foram desmentidas.
Enquanto a operação avançava, a polícia pediu pelo Twitter que a imprensa não divulgasse imagens ao vivo dos locais do cerco. Havia o temor de que os suspeitos aproveitassem as informações para fugir. Está praticamente confirmado que os terroristas trabalharam em três frentes. Os nomes de outros dois suspeitos foram divulgados: o sírio Ahmad al-Mogammad, de 25 anos, que detonou explosivos de seu cinturão no Stade de France, e o francês Samy Aminour, um dos extremistas do Bataclan. Dos sete terroristas suicidas que agiram na sexta-feira em Paris, cinco foram identificados, sendo que quatro são franceses e pelo menos três passaram pela Síria.
Confira o mapa dos ataques:
*Zero Hora