O Prêmio Nobel da Paz é também uma forma de mandar um recado ao mundo. E nesse ano de pandemia, haveria vários recados a serem dados.
Encabeçavam as listas de apostas para a láurea o movimento BlackLivesMatter, a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de contestada por sua atuação diante da crise do coronavírus, a imprensa de forma geral na luta pela liberdade de informação, a Jacinda Ardern, a primeira-ministra da Nova Zelândia que deu show de gestão da covid-19 no seu país, entre outros.
No entanto, o comitê Nobel, em geral, não escolhe aqueles que estão mais em evidência, preferindo lançar luzes sobre personalidades ou organizações cujo trabalho existe há muitos anos e que nem sempre chama a atenção do mundo.
O prêmio deste ano foi para o Programa Mundial de Alimentos, a maior agência humanitária de combate à fome do mundo, integrante do sistema das Nações Unidas.
A mensagem não deixa de ser política — a fome e a guerra são agravadas pela pandemia. E, ao valorizar uma agência da ONU, o comitê está destacando o multilateralismo, a ideia de cooperação mundial, em oposição a posturas isolacionistas apregoadas por líderes como Donald Trump, Jair Bolsonaro, Viktor Orban e outros.
O recado é de valorização do esforço internacional, do humanismo, justamente no momento em que a ONU e todo o sistema multilateral erigido a partir da Segunda Guerra Mundial, inspirado na chamada "paz kantiana", é questionado por nacionalismos de diferentes nuances.