Em uma era de confrontos cibernéticos (cyberwar), uso de drones para assassinatos seletivos e emprego de capacidades assimétricas para neutralizar o inimigo, são cenas de uma guerra convencional, com artilharia, blindados e aviões, que chamam a atenção nos últimos dias nas barbas da Europa.
Duas ex-repúblicas soviéticas, Armênia e Azerbaijão trocam tiros em uma região montanhosa do sul do Cáucaso chamada Nagorno-Karabakh. E colocam o mundo em alerta.
Embora pouco conhecido por aqui, esse conflito é antigo e remonta aos anos finais da Cortina de Ferro. Trata-se de uma região de maioria armênia (cerca de 140 mil) encravada no território do Azerbaijão. Essa população, apoiada pelo governo da Armênia, reivindica independência.
Entre 1992 e 1994, os dois países entraram em guerra aberta por causa do território. O conflito deixou mais de 30 mil mortos e foi amenizado por um frágil cessar-fogo.
Nagorno-Karabakh segue se autoproclamando uma nação independente, mas não é reconhecida pela comunidade internacional, que a considera território do Azerbaijão. Em 2016, as duas nações voltaram a trocar escaramuças. E, de uns tempos para cá, o Azerbaijão parece decidido a sufocar as revoltas separatistas, aumentando a presença militar. Os dois lados também acusam-se mutuamente de usarem mercenários nos combates, mas o que se vê nas imagens distribuídas pelas agências de notícias internacionais desde domingo é o emprego de tropas regulares nos confrontos.
Se você observar o mapa da região, verá que há uma área de fronteira ocupada pela Armênia, que estende o limite do país para além de Nagorno-Karabakh. Ainda perceberá que, dentro do território armênio, à Oeste, há um enclave do Azerbaijão. Ou seja, unem-se aí questões étnicas e disputa por território, ingredientes potencialmente explosivos.
Daí a preocupação sobre a possibilidade de uma nova guerra aberta entre os dois países, que - risco maior - poderia sugar potências regionais para o embate indireto, iniciando uma guerra por procuração (proxy war), como Arábia Saudita e Irã travam no Iêmen.
Turquia e Rússia disputam a hegemonia naquela área. Historicamente, a Rússia apoia a Armênia, e a Turquia, o Azerbaijão. O presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, inclusive nega o genocídio armênio, de 1914, e quer, ampliar sua influência na região explorando sua aliança com o Azerbaijão. Claro que essa projeção de força encontra obstáculo nos interesses do presidente Vladimir Putin, que se vê como herdeiro da influência russa sobre as antigas repúblicas da esfera soviética. Turquia e Rússia têm se aproximado nos últimos anos, em especial em questões de Oriente Médio e Guerra na Síria, e as amarras comerciais podem impedir o conflito. Mas as divergências entre Azerbaijão e Armênia historicamente opõem as duas nações. Daí a necessidade de uma mediação de outro ator, como a União Europa (UE) ou o Grupo de Minsk, tradicional mediador que reúne Estados Unidos, França e Rússia. O Conselho de Segurança da ONU se reúne nesta terça-feira (29) para debater o tema.