Os combates se tornaram mais intensos nesta segunda-feira (28) entre o Azerbaijão e os separatistas armênios de Nagorno Karabakh, enquanto o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, principal aliado de Baku, alimentou os temores de uma escalada do conflito ao pedir a retirada da Armênia.
À noite, autoridades de Nagorno anunciaram que mais 26 separatistas morreram em confrontos com forças azeris, o que eleva o balanço de rebeldes mortos a 84.
O porta-voz do Ministério da Defesa da Armênia, Artsrun Hovhannisyan, anunciou uma "ofensiva em massa" das forças azeris nas áreas sul e nordeste da linha de frente. O balanço total, chegava na noite de hoje a 95 mortos, 11 deles civis (nove no Azerbaijão e dois no lado armênio).
Desde ontem, separatistas de Nagorno Karabakh, apoiados pela Armênia, e as tropas do Azerbaijão se enfrentam nos combates mais violentos na região desde 2016. Isto provoca o aumento do temor de uma guerra aberta entre Baku e Yerevan.
O Azerbaijão, país de língua turca e maioria xiita, reclama o controle de Nagorno Karabakh, província de maioria armênia e cristã cuja secessão, em 1991, não foi reconhecida pela comunidade internacional.
O presidente turco, Recep Erdogan, pediu hoje à Armênia que ponha fim ao que classificou de ocupação. "A Turquia seguirá apoiando o país irmão e amigo que é o Azerbaijão, de todas as formas", afirmou.
A Armênia apresentou hoje um pedido na Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH), braço jurídico do Conselho Europeu, para que "indique ao governo azeri que cesse seus ataques militares contra populações civis".
- 'Interferência turca' -
A comunidade internacional pede um cessar-fogo imediato. O Conselho de Segurança da ONU irá se reunir amanhã a portas fechadas para discutir a situação, segundo fontes diplomáticas. O porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, estimou que a prioridade é "acabar com as hostilidades, e não determinar quem tem razão".
Armênia e Nagorno Karabakh denunciam, por sua vez, a "interferência" turca e acusam Ancara de fornecer armas, "especialistas militares", pilotos de drones e aviões para Baku. Yeveran também afirmou que Ancara implementou milhares de "mercenários", transferidos da Síria.
O Ministério da Defesa do Azerbaijão negou essas acusações e destacou que "mercenários etnicamente armênios" do Oriente Médio combatiam junto aos separatistas.
O embaixador armênio na Rússia, Vardan Toganyan, disse à agência russa Ria Novosti que seu país não hesitaria em usar mísseis balísticos Iskander, fornecidos por Moscou, se Ancara recorresse aos F-16 turcos.
O balanço pode ser mais grave, já que os dois lados afirmam ter infligido centenas de baixas ao adversário, divulgando em particular imagens de blindados destruídos. Baku afirma ter matado 550 soldados inimigos e Yerevan alega ter eliminado mais de 200.
O ministério da Defesa de Nagorno Karabakh anunciou que reconquistou posições perdidas no domingo. Ao mesmo tempo, o Azerbaijão afirmou que conquistou mais territórios.
As Forças Armadas "atacam as posições inimigas com foguetes, artilharia e aviação. Tomaram várias posições estratégicas nos arredores da localidade de Talych. O inimigo recua", afirmou o ministério da Defesa do Azerbaijão.
Nos últimos anos, o governo de Baku destinou parte importante da receita obtida com petróleo à compra de armamento.
Após várias semanas de retórica bélica, o Azerbaijão anunciou uma "contraofensiva" em resposta ao que chamou de "agressão" da Armênia. O país utiliza artilharia, blindados e aviões contra a província controlada pelos separatistas armênios.
- Lei marcial -
O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, acusou o inimigo histórico de seu país de ter declarado "guerra ao povo armênio", enquanto o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, prometeu "vitória".
O presidente da autoproclamada república de Nagorno Karabakh, Arayik Harutyunyan, afirmou que a "Turquia, não o Azerbaijão" combate contra o território separatista. "Há helicópteros, F-16, tropas e mercenários de diferentes países", disse.
Moscou, que mantém relações cordiais com os dois beligerantes e é considerado um árbitro regional, tem mais proximidade com a Armênia, que integra a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma aliança militar dominada pela Rússia.
Todos os esforços de mediação para solucionar o conflito fracassaram e os dois países travaram um combate na fronteira norte em julho, os atos mais violentos desde 2016 e que provocaram o temor de desestabilização na região.
Os dois Estados decretaram lei marcial e a Armênia uma mobilização geral. O Azerbaijão impôs um toque de recolher em parte do país, incluindo a capital Baku.
* AFP