Uma cena cruel e inaceitável emerge da Indonésia, o maior país islâmico do mundo. Uma mulher, de joelhos, é punida, açoitada com bengalas de vime com cem chibatadas.
A sequência de fotos foi transmitida internacionalmente pela agências de notícias Associated Press (AFP), que documentou o ritual - e aqui, digo ritual, porque, no caso de Aceh, que aplica a sharia (a lei islâmica), o laico e o religioso são fenômenos sociais intrínsecos. Não há separação.
Mas o mais adequado seria dizer tortura!
Com relação à vítima, trata-se de uma mulher punida por ter feito sexo antes do casamento. A cena, testemunhada pela AFP, ocorre em frente à mesquita Al-Munawarah, em Jantho, na província de Aceh.
Lá, o véu islâmico é obrigatório para mulheres. Adultério, relações sexuais fora do casamento ou com uma pessoa do mesmo sexo são punidos. O consumo de álcool e jogos de azar também não são permitidos. Nem cinema. Em caso de transgressão, são 10 golpes para um gesto de afeto em público, 40 por ingerir bebida alcoólica, mais de cem em casos de relacionamento homoafetivo. Como se vê, pela sharia, sexo antes do casamento, também é punido, no caso das mulheres, com cem chibatadas.
Nem toda Indonésia é assim. Aliás, em Bali, onde estive em 2007 para cobrir a conferência das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, a prostituição e as drogas correm soltos - não à toa o local foi escolhido pela rede Al-Qaeda para explodir duas danceterias em 2002, matando mais de 200 pessoas - entre elas um paulista e um gaúcho.
Em Aceh, na Ilha de Sumatra, as autoridades instauraram o Islã radical - o mesmo defendido pelo grupo terrorista Estado Islâmico. Há também esta expressão em outros lugares, prática que contribui para a estereotipar a religião islâmica, embora a imensa maioria dos muçulmanos não seja extremista.
No caso de Aceh, nos últimos anos, o número de mulheres condenadas por crimes religiosos aumentou tanto que o governo decidiu criar uma brigada - também formada por mulheres - para cumprir as sentenças. Especificamente para a agressão, as chibatadas. Até o governo central, do presidente Joko Widodo, é contrário, mas a prática continua em vigor dada a autonomia que Aceh tem em relação ao restante do país.