Passada a sensação de vergonha alheia da lavagem de roupa suja em horário nobre, protagonizada por Donald Trump e Joe Biden, no primeiro debate da campanha presidencial nos Estados Unidos, na terça-feira (29), é hora de olhar para frente. Quem ganhou? Quem perdeu? As respostas são, normalmente, dadas pelos institutos de pesquisa que medem, minuto a minuto, o impacto das palavras dos presidenciáveis no público. Segundo a rede CNN, no estudo pós-debate, para 60% dos espectadores, Biden ganhou. Vinte e oito por cento disseram que o vencedor foi Trump.
Mas há uma análise quantitativa, algumas camadas abaixo, que dificilmente pesquisas captam nas primeiras horas pós-embate. O quanto o duelo em Cleveland (Ohio) foi realmente decisivio para mudar o voto do eleitor ou fazer os indecisos (cerca de 11%) definirem por um ou outro postulante à Casa Branca?
Nos Estados Unidos, o voto não é obrigatório, sempre é bom lembrar. A eleição ocorre em uma terça-feira, dia útil, sem feriado. Ou seja, até a previsão do tempo interfere na decisão do eleitor de sair ou não de casa ou do trabalho para votar. Se estiver em horário comercial, ele precisa interromper o expediente ou aproveitar o intervalo do almoço para ir até um ponto de votação - e enfrentar fila, às vezes. É necessário não só o desejo de exercer seu direito, mas acima de tudo estar mobilizado por uma causa ou um candidato.
Pelo que você viu, ouviu ou leu sobre o debate de terça-feira, acredita que algum dos dois postulantes fariam você se deslocar até a sessão eleitoral no dia 3 de novembro? Acho que não, a não ser se você já tivesse identificação com Trump ou Biden.
Isso significa que talvez o festival de interrupções, ataques e gritaria pouco ou nada tenha servido para conquistar o voto dos indecisos para um e outro candidato. Possivelmente, tenha afastado o eleitor ainda mais do pleito e da política - aí, ganha Trump, mas perde a democracia.
Em suma, Trump e Biden discursaram para seus públicos - não conquistaram novos eleitores. Se liderança significa agressividade, falta de educação e por vezes falsa informação, Trump é o vencedor do duelo. Se falta de energia, ponderação que descamba para o vacilo e dificuldade em concluir raciocínio, além de alguma ironia são qualidades de um futuro comandante-em-chefe da nação, o ganhador é Biden. Os perdedores foram os eleitores americanos.