A foto divulgada nesta terça-feira (18) pela agência de notícias France Presse (AFP, acima) resume um pouco o exemplo de liderança da chanceler Angela Merkel. Enquanto políticos à direita e à esquerda mundo afora promovem aglomerações em meio à pandemia, a chefe de governo da Alemanha fez questão de dar exemplo. Na imagem oficial de um encontro com líderes locais em Dusseldorf, nada de junção. Cada um respeitou, sob a batuta de Merkel, o distanciamento preventivo (e necessário) desses tempos.
Não foi a primeira vez em que seguiu o mantra de que o exemplo é mais eficiente do que palavras. Em março, assim que soube que seu médico havia sido infectado pelo coronavírus, se impôs isolamento (ela foi testada três vezes e não positivou para covid-19).
Diante de rebotes do coronavírus em vários países, a Europa aperta o cinto para evitar uma segunda onda. Nações reimpuseram medidas de restrições. Na Alemanha, Merkel anunciou nesta terça-feira (18) que descarta flexibilizar as ações e fez um apelo para que a população respeite as normas.
- No meu ponto de vista, não podem acontecer novas flexibilizações - afirmou a chanceler, no momento em que o país registra um forte aumento de contágios, de quase mil por dia.
Merkel deixa o poder na Alemanha em 2021 - e, caso se mantenha assim, terá exercido o poder em grande estilo, consolidando-se como a grande líder da Europa nesses anos 2000. Não é midiática, como o vizinho Emmanuel Macron, e, no entanto, deixa suas marcas por meio de gestos sóbrios e palavras fortes.
Atualmente, a Alemanha exerce a presidência semestral da União Europeia (UE). Na última reunião de cúpula, diante do impasse entre as nações do Norte rico e do Sul mais abalado pela covid-19, Merkel foi uma mediadora neutra e ao mesmo tempo justa na busca por uma solução que não aprofundasse a crise dos que mais sofreram com a pandemia. Ao final, depois das rixas, com direito a socos na mesa de Macron, ela distribuiu chocolates aos colegas em sinal de paz.
No final do ano que vem, Merkel concluirá seu quarto e último mandato. Se nada sair dos trilhos, terá encerrado uma trajetória política em que a Alemanha se consolidou como líder do bloco, formatando boa parte da UE a seu próprio comando. A presidência da UE é uma chance de Merkel deixar um legado histórico diante do maior desafio europeu pós-Segunda Guerra.