Destino de milhares de turistas brasileiros a cada ano, a Flórida se tornou o principal cavalo de batalha do presidente Donald Trump para mostrar que, supostamente, o pior da pandemia já passou e que isso se deve ao grande sucesso de suas medidas e do governador Ron DeSantis, que, claro, é do seu partido, o Republicano.
Para tanto, as imagens contribuem: astros da NBA, a liga profissional de basquete, chegando a Orlando para a retomada das partidas e os parques da Disney em preparativos finais para a reabertura. Na terça-feira, o vice-presidente Mike Pence foi à Flórida para comemorar o que chamou de "grande sucesso" do governador na contenção da pandemia de coronavírus.
O problema é quem nem tudo é o que parece - ou o que o governo quer fazer parecer. A realidade da pandemia insiste em desmentir o reino da fantasia de Trump. A Flórida é hoje o quinto Estado americano mais atingido pela covid-19, que pegou os Estados Unidos primeiro por Nova York e hoje atinge, principalmente, os territórios do Sul. Com 21 milhões de habitantes, a terra do Mickey e cia tem 47 mil casos e 2 mil mortes. Na terça, mais de 50 hospitais do Estado relataram que suas UTIs atingiram lotação máxima.
Os casos dispararam de um mês para cá, com a contagem diária superando 10 mil infecções - no sábado, passou de 11 mil. A taxa de mortalidade por covid-19 aumentou quase 19% na última semana, em relação à anterior.
O que deu errado? Quase tudo. Nenhuma medida recomendada pelos cientistas foi adotada na Flórida nas últimas semanas. Um mês antes da explosão dos números, o governo de DeSantis relaxou medidas de isolamento social, levando à reabertura de praias, hotéis, bares e restaurantes. Muita gente, principalmente os jovens, voltou a socializar. É época de formaturas e de férias, verão no Hemisfério Norte. A polarização política em torno das medidas de combate à pandemia foi outro fator. Trump e aliados não usam máscaras de proteção. Por que a população deveria usar? O setor do turismo é fundamental no Estado. Menos visitantes significa menos trabalho - e, nesse ponto, muitos brasileiros que vivem na região, cerca de 470 mil, são atingidos.
Os organizadores estão levando a NBA para o epicentro da covid-19 nos EUA. Alguns funcionários assinaram pedido para que a Disney atrase a reabertura, mas a empresa informou que mantém a previsão de retomada para o próximo sábado.
A Flórida é um dos principais campos de batalha da eleição. A tradição política americana costuma confirmar que nenhum candidato chega à Casa Branca sem vencer no Estado. A profecia cumpriu-se com George W. Bush, em 2000, no tapetão, e em 2004, com Barack Obama, em 2008 e 2012, e com Trump, que ganhou com 49,02% em 2016, o que deu a ele os 29 delegados no colégio eleitoral. Mostrar que a vida é bela e a felicidade até existe na Flórida é fundamental para a reeleição em novembro.