Os europeus estão indo dormir neste domingo (19) sem saber o que será do continente depois do coronavírus.
A recuperação econômica está emperrada, como de costume, no abismo existente no bloco entre os países ricos, como Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia, e aqueles mais pobres, com fama de maus pagadores e os mais devastados pela covid-19, como Itália e Espanha.
Até a noite, a reunião de cúpula dos chefes de governo dos países que formam a União Europeia (UE), que deveria ter terminado no sábado (18), não haviam chegado a um acordo sobre o orçamento do bloco econômico para o período de 2021 a 2027, de cerca de 7 trilhões de euros. O plano de 750 bilhões de euros para a reconstrução após a pandemia precisa ser incluído na previsão de gastos.
Ao que parece, ninguém nega a necessidade de ajudar as nações mediterrâneas. As divergências se devem às condicionantes desse apoio financeiro.
Os quatro países que fincam pé, os chamados frugais, se opõem à criação de um fundo de recuperação baseado apenas em doação - ou seja, que não estabeleça condicionalidades fiscais. Menos atingidos, eles defendem ajuda em forma de empréstimos. Mas nações como Itália e Espanha estão desesperadas para reviver suas economias destruídas e acusam a UE de não fazer o suficiente para ajudar seus países, uma suposta falta de solidariedade em meio à maior tragédia sanitária e econômica desde a Segunda Guerra Mundial.
E ecoam divergências políticas. O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, afirmou que o continente está sob chantagem dos frugais e descreveu as negociações como aquecidas. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e seus aliados na Polônia acusaram a Holanda de tentar vincular a ajuda financeira a questões políticas - os dois países do Leste Europeu têm governos de extrema-direita, e a Hungria em particular colocou a UE em alerta durante o auge da pandemia com as medidas autoritárias implementadas por Orbán, que ameaçaram a democracia.
No meio, estão a Alemanha, de Angela Merkel, e a França, de Emmanuel Macron, que buscam, como árbitros informais, um entendimento.
- Há muita boa vontade, mas também muitas posições diferentes - disse Merkel.
Muitos países encerraram os confinamentos obrigatórios, mas o vírus continua sendo uma ameaça. Há surtos localizados em todo o continente. No meio do fogo cruzado, uma das vozes mais equilibradas veio de Portugal. O primeiro-ministro António Costa pontuou que o pior cenário seria um não acordo: uma péssima notícia para a Europa, um péssimo sinal para todos os agentes econômicos e para o mundo.
Nunca desde a fundação do bloco, em 1993, a Europa, na hora que mais precisa de unidade, apareceu tão dividida.